A questão não é capacidade técnica,mas rejeição à mulher negra

A questão não é capacidade técnica,mas rejeição à mulher negra

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Ivan Accioly Por Ivan Accioly* – ivan-accioly@negrxs50mais.com.br

A reação à indicação do nome de Margareth Menezes para o Ministério da Cultura não tem nada a ver com capacidade técnica ou conhecimento sobre o setor.  É, sim, mais um exemplo do racismo brasileiro. No caso, associado à misoginia e potencializado na rejeição à mulher negra. Todo o resto é um falso discurso para esconder a real motivação.

Quando aproximamos a lupa, vemos a hipocrisia da cobrança. Margareth é gestora cultural com projetos de sucesso há anos.  No entanto, para ela, acham que é obrigatório apresentar o currículo antes de dizer o próprio nome. O crachá de fundadora e presidenta da Fábrica Cultural, uma ONG sediada na Bahia desde 2004, que atua na área da cultura, educação e sustentabilidade se impõe. Os dos projetos decorrentes também, como os de combate ao trabalho infantil, exploração sexual e outras violações de direitos. Ou, ainda, os de projetos como o Mercado Iaô, uma agência de produção cultural e o de embaixadora da IOV-UNESCO, grupo que visa preservar e fomentar a produção cultural em todas as suas formas. Ou o de idealizadora do Movimento Cultural AfroPop, que reúne artes visuais, música e o Giro Cultural – uma ação com jovens de projetos sociais.

Margareth Menezes - Lula - Ministra da Cultura
Margareth Menezes e Lula

Gestão pública

Ah, mas ela não entende de gestão pública.  Tá, ok! Passa para outra questão, pois essa dá até preguiça de rebater. Para que existem os funcionários de carreira? Para que existem os assessores e seus cargos comissionados? Qual é o papel do ministro, qualquer ministro? Articular políticas.  Incrível né? Ter ideias, ouvir, aglutinar, delegar, cobrar. Quem conhece os projetos que Margareth executa em Salvador não tem dúvidas quanto a estas habilidades. E há reconhecimento vindo de longe. Neste ano ela foi eleita uma das cem pessoas negras mais influentes do mundo na lista da Most Influential People of African Descent (MIPAD).

Mulher, negra, nordestina, sorridente, aos 60 anos de idade, é um corpo que incomoda. Sua arte está mais para a periferia do que pros salões. Antes de ser um dos principais nomes do axé baiano, de cantar samba-reggae e afrobeat, foi atriz. No próximo ano, já no cargo de ministra, defenderá, junto com Tinga, o samba enredo ‘As Áfricas Que a Bahia Canta’, em homenagem à sua Bahia, para a carioca Estação Primeira de Mangueira. O samba é uma composição de Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim.

Voa Margareth !

Imagens: Instagram Margareth Menezes

*Ivan Accioly é editor do Negrxs50mais

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