Discriminação contra mulheres negras no mercado de trabalho
Redação – redacao@negrxs50mais.com.br
A sondagem inédita “Mulheres negras no mercado de trabalho” mostra que a discriminação no ambiente laboral atingiu a 78% das 155 das mulheres negras participantes. Mais de 50% delas disseram ter sofrido preconceito de gênero e/ou raça. As respostas foram agrupadas em estereótipos raciais nos seguintes temas: cabelo, recrutamento/seleção, faxineira/empregada, pele, silenciamento/credibilidade e salário/promoções.
A sondagem foi idealizada pela CEO da consultoria Trilhas de Impacto, Juliana Kaiser, e realizada por meio da rede social LinkedIn. Juliana é uma mulher negra, educadora, gestora de projetos, professora no Instituto de Economia da UFRJ e no IAGPuc Rio. Atua como palestrante de ESG e igualdade racial no mundo corporativo, além de ser conselheira da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RJ).
Com relação ao tema “Cabelo”, por exemplo, Juliana diz que ele atravessa a vida de qualquer mulher negra no Brasil: “É comum pensarmos dez vezes antes de ir a uma entrevista de emprego com um turbante ou com o cabelo black, já que não sabemos se quem está do outro lado é uma pessoa racista? Após mais de 20 anos fazendo análise, percebo o quanto de energia perdemos nesse processo de se manter saudável, apesar de toda a opressão que o racismo provoca. E essa pesquisa só vem reforçar que isso não é um fenômeno individual”.
Racismo disfarçado como falta de qualificação
No quesito “Recrutamento/seleção”, os relatos das entrevistadas reforçam a necessidade de as pessoas negras estarem sempre preparadas para que uma situação de exclusão e racismo seja disfarçada como falta de qualificação. Foi no processo de atração que a pesquisa apresentou os maiores dados de discriminação e racismo.
“Vamos depender do quão letrado, sob o ponto de vista racial, é o nosso interlocutor, e o quanto a empresa está interessada de fato em promover diversidade racial. O RH das empresas, ao realizar processos de seleção, recrutamento, promoção, geralmente, tem o consenso tácito de que os ocupantes dos cargos de destaque devem ser homens brancos. Nas entrelinhas, a cor da pele acaba sendo um fator de seleção, ou melhor, de segregação”, destaca.
Juliana conta que uma das categorias que mais a deixou perplexa foi a denominada “Faxineira /empregada”. Foram mais de dez relatos de mulheres hiper qualificadas e letradas confundidas com funcionárias operacionais. A entrevistada Ludmila disse: “sempre pediam para eu limpar as coisas”. Ela é administradora de empresas e foi contratada para ser supervisora de uma área. Outra respondente, Quézia, compartilhou que, durante uma entrevista de emprego para uma vaga de secretária sênior, foi indagada por uma funcionária da empresa se ela seria a nova faxineira.
“Casos assim não são isolados. No prédio em que eu resido, na Zona Sul carioca, a poucos passos da praia, a única moradora negra que não é empregada doméstica sou eu. Não raro sou indagada sobre o motivo pelo qual acesso o elevador social, que atende somente dois apartamentos por andar. A pesquisa demonstra apenas o que todos nós presenciamos todos os dias. A inclusão racial é praticamente inexistente nas empresas brasileiras e estereótipos de branquitude seguem fechando portas, especialmente, às mulheres negras e pardas”, alerta a gestora.
Perfis das entrevistadas na sondagem Mulheres negras no mercado de trabalho
As 155 respondentes têm entre 19 e 55 anos de idade. A média ficou entre 30 e 45 anos. No que se refere à atuação profissional, 83,9% estavam ocupadas no setor formal de trabalho. As áreas em destaque foram educação, recursos humanos, TI/ análise de sistemas, telemarketing, relações públicas, administração e comércio. 50,3% possuem nível superior e pós-graduação/especialização; 13,5% mestrado e doutorado.
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