Caminhada religiosa contra a intolerância, o racismo e pela paz

Caminhada religiosa contra a intolerância, o racismo e pela paz

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Redação* – redacao@negrxs50mais.com.br

A 16ª edição da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa transformou a Praia de Copacabana no palco de uma grande manifestação pela liberdade religiosa no dia 17, domingo. Praticantes de diferentes religiões se uniram contra a intolerância, o racismo e pela paz. O babalawô Ivanir dos Santos, diretor do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap) e membro da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR), entidades organizadoras, afirmou que não se tratava de um ato religioso, mas “uma caminhada de religiosos e não-religiosos na defesa de uma agenda civil que é o Estado democrático de direito, as liberdades, a democracia, a diversidade e mais ainda os direitos humanos. Então isso é o que nós estamos celebrando todo ano. Infelizmente, cada vez mais cresce na sociedade a intolerância, a misoginia, a homofobia, o racismo”.

No Brasil aconteceram, em média, três denúncias de intolerância religiosa por dia em 2022, de acordo com o II Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe. No dia 17 de agosto, a sacerdotisa do candomblé, líder quilombola e da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), Mãe Bernadete foi assassinada na Bahia. Em 21 de janeiro de 2000 a yalorixá Gildásia dos Santos e Santos, Mãe Gilda de Ogum, sacerdotisa do Ylê Axé Abassá de Ogum, em Salvador (BA), teve infarto fulminante após ver sua fotografia estampada no jornal Folha Universal. A reportagem a associava a charlatanismo, com o título: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. 

Início em 2008 contra a intolerância, o racismo e pela paz

A primeira foi realizada em 2008, em reação aos episódios de intolerância religiosa que aconteceram no Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Na ocasião, adeptos das religiões de matriz africana foram expulsos da comunidade pelo traficante Fernandinho Guarabu. O então chefe do tráfico local, impedia o uso das vestes religiosas e de seus fios de conta.

Estado laico garante liberdade religiosa para todos

As religiões de matriz africana eram maioria entre representantes da umbanda, candomblecistas, católicos, evangélicos, ciganos, islâmicos, budistas e wiccas.  O presidente da União Cigana do Brasil, Marcelo Vacite, lembrou que o estado é laico e que todos têm direito de cultuar a sua religião. “Não podemos incentivar o fanatismo religioso, porque ele mata, ele destrói, ele fere”, afirmou.

O sacerdote Luiz Coelho, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, pediu maior mobilização dos cristãos. “O Brasil é um país plural que tem vários povos, várias culturas e também tem várias religiões. Principalmente para nós, que somos pessoas cristãs e que formamos a maioria da população brasileira, é muito importante endossar que não há espaço para violência, não há espaço para a intolerância religiosa”. Coelho enfatizou que os diferentes credos podem trabalhar juntos pela paz, pela harmonia dos povos, pelo fim da violência e por uma cultura de vida. “Devemos apoiar principalmente a religiões de matriz africana e ao xamanismo, que já sofreram tantas perseguições e ainda hoje são vítimas de preconceito”, acrescentou.

Política de Estado por liberdade religiosa, contra o racismo e pela paz

Caravanas de São Paulo e Minas Gerais contribuíram para engrossar o número de manifestantes. Pai Denisson D’Angelis, sacerdote de umbanda do Instituto CEU Estrela Guia, cobrou uma política de Estado em favor da liberdade religiosa. “Precisamos estar de mãos dadas contra todo tipo de vilipêndio, de agressão, como foi o caso da mãe Bernadete. Temos uma luta muito grande pela liberdade do povo de matriz africana, dos ameríndios e atos como esse vêm reforçar a necessidade de sermos respeitados”.

Felipe Avelar, diretor jurídico da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), enfatizou que a entidade acompanha os casos para ter uma postura ativa no encaminhamento, tanto em âmbito criminal como em âmbito administrativo junto às autoridades competentes. “A liberdade religiosa é um direito fundamental”, afirmou.

O monge Gyouun Vieira observou que o budismo desembarcou no Brasil em 1908 junto com a imigrantes japoneses. “Um dos principais motivos que geram a intolerância é a falta de informação e de conhecimento. Eventos como esse fazem com que a gente possa conhecer mais as religiões. É possível encontrar líderes religiosos que não temos a oportunidade de encontrar no dia a dia”.

*Redação: Negrxs50mais com Agência Brasil

Fotos: Ivan Accioly

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