Zezé Motta é primeira artista Doutora Honoris Causa na Fiocruz

Zezé Motta é primeira artista Doutora Honoris Causa na Fiocruz

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Redação – redacao@negrxs50mais.com.br

A atriz Zezé Motta é a primeira artista a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — a maior honraria concedida pela instituição. A homenagem foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Deliberativo da fundação. Ao receber o diploma, Zezé afirmou que sua carreira foi marcada pela busca da representatividade e pelo combate ao preconceito. “Hoje, recebendo esse título, sinto que a minha trajetória se entrelaça à de todos que lutam por justiça e igualdade”, afirmou. 

Zezé atuou fortemente na consolidação da luta antirracista no Brasil e colaborou com a criação do Movimento Negro Unificado, na década de 1970. Foi fundadora do Centro de Informação e Documentação Artista Negro (Cidan), em 1984.

Nascida em Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro, a atriz chegou a trabalhar como operária na indústria farmacêutica. Em 1967 estreou na peça Roda viva, de Chico Buarque. No ano seguinte chegou à televisão, com um papel coadjuvante na novela Beto Rockfeller, da TV Tupi.

Zezé Motta - Doutora Honoris Causa - Fiocruz
Zezé Mota e Mário Moreira -presidente da Fiocruz – Foto: Peter Ilicciev

Cinema, TV, teatro e canto na carreira da premiada negra doutora honoris causa

Estreou no cinema  em 1970 como freguesa do Bar Viajantes no filme Cléo e Daniel. Em 1973, esteve no elenco de Vai Trabalhar, Vagabundo! e, no ano seguinte, participou dos longas Um Varão Entre as Mulheres e Banana Mecânica como Marilda.Em 1977, foi Dandara em Cordão de Ouro; uma empregada em Ouro Sangrento e Estrela em A Força do Xangô.

Em 1976, foi aclamada com o personagem principal do filme Xica da Silva, de Cacá Diegues. Por ele recebeu os principais prêmios do cinema brasileiro, Entre eles os prêmios Air France,   Coruja de Ouro,  Governador do Estado e o de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Brasília.

Zezé Motta

Com a personagem Sônia Rangel na novela Corpo a Corpo da TV Globo, em 1984, ganhou seu primeiro grande destaque na televisão. Na trama, ela vivia par romântico com um homem branco. O fato não foi aceito pelo público à época e a atriz sofreu ataques racistas e ameaças durante a exibição.[7] Em 2007 ganhou o Troféu Oscarito, prêmio destinado aos maiores contribuintes do cinema nacional pelo Festival de Gramado.

Como cantora, iniciou a carreira em 1971, em casas noturnas paulistanas. De 1975 a 1979, lançou três LPs. Nos anos 1980, lançou mais três discos. O mais recente é Pérolas negras (2024), no qual divide os vocais com Alaíde Costa e Eliana Pittman.

Homenageada por Lélia Gonzales e por escolas de samba do carnaval carioca

Foi homenageada no carnaval carioca pelas escolas de samba Arrastão de Cascadura, em 1989; Acadêmicos do Sossego em 2017 e Unidos da Vila Kennedy, pelo Grupo C, em 2002. Ela desfilou nas três ocasiões.

Em 1984 a autora Lélia Gonzalez publicou um texto intitulado “Homenagem a Zezé Mota – História de vida e louvor”. Nele destaca: “Para além da leveza, da doçura, do bom humor de Zezé, encontra-se uma mulher extraordinária, temperada por muita luta e sofrimento, generosa enquanto companheira, filha, irmã, esposa, amiga. Para além da imagem, da estrela Zezé Motta, o que vamos encontrar, na verdade, é uma mulher.”

Sobre Lélia, Zezé recordou: “Eu sempre soube que tinha algo errado no país. Sentia muita inquietação, muita agonia, mas não sabia por onde começar”. “Através de um curso de cultura negra ministrado por Lélia, entendi que eu precisava me informar mais, me aprofundar. Na aula inaugural, Lélia disse: ‘Eu sei por que vocês estão aqui. Gostaria de lembrar que não temos mais tempo para lamúrias. Temos que arregaçar as mangas e virar esse jogo’. Aquela aula mudou minha vida, porque me deu o norte: em vez de ficar me lamentando, eu precisava fazer alguma coisa”.  

A luta antirracista da mulher preta que se firmou no cenário artístico

“Ser uma mulher preta no Brasil é, por si só, um marco diário. Mas ser uma mulher preta que conseguiu se firmar no cenário artístico, desafiando estereótipos e conquistando espaços é uma vitória que carrego comigo. E, junto a mim, todas as mulheres pretas que vieram antes e as que ainda vivem agora”, disse Zezé. Ela fez ainda um apelo pelo fim da violência contra a mulher e o feminicídio. “Não podemos aceitar que mulheres neste país sejam vítimas de violência. Não se naturaliza o medo, a vergonha e a dor”.  

Hilda Gomes – Foto:Peter Ilicciev

A coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas da Fiocruz, Hilda Gomes também enalteceu a atriz. “Zezé é um ícone da cultura brasileira e porta-voz de uma luta antirracista fundamental para o fortalecimento da democracia e redução das desigualdades no Brasil”.

O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, disse que a concessão do título “busca reconhecer o trabalho de pessoas que contribuíram para a melhoria da humanidade e do país”. “Entendemos que a expressão científica também se dá pela cultura e pelas artes, mas, para além disso, Zezé encarna a luta do nosso cotidiano por um país menos desigual”. “Esta é uma luta da Fiocruz, porque é uma luta da sociedade brasileira”, afirmou.

Acesse aqui a cerimônia em homenagem a Zezé Motta: canal da Fundação no YouTube.

Imagem em destaque de Peter Ilicciev

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