Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira no CCBB RJ até 17/02

Até 17 de fevereiro acontece no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ) a exposição Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira, com os obras de 62 artistas negros, de diferentes regiões do país. Doze deles nasceram ou vivem no Rio de Janeiro e dois estão entre os homenageados da mostra. Os trabalhos em exibição no podem ser conferidos, com entrada gratuita entre quartas e segundas-feiras, das 10h às 19h.
A versão carioca da exposição, que já passou por Belo Horizonte e São Paulo, conta com novas obras. Entre elas estão uma escultura de Rubem Valentim e reproduções de fotos de familiares da artista Massuelen Cristina. De acordo com o curador, Deri Andrade, a exposição foi especialmente planejada para o CCBB Rio.
O evento ocupa o segundo andar e o espaço próximo à bilheteria do CCBB. Pinturas, fotografias, esculturas, instalações, vídeos e documentos revelam diferentes épocas e discussões, contextos, gerações e regiões. A mostra percorre do período pré-moderno à contemporaneidade.
Cinco eixos que contam com artistas negros emblemáticos
Os trabalhos estão alocados em cinco eixos: Tornar-se, sobre a importância do ateliê de artista e do autorretrato; Linguagens, que aborda os movimentos artísticos; Cosmovisão, a respeito do engajamento político e direitos; Orum, sobre as relações espirituais entre o céu e a terra, a partir do fluxo entre Brasil e África; por último, Cotidianos, que aborda as discussões sobre representatividade.
Cada eixo é representado por artistas negros emblemáticos: Arthur Timótheo da Costa (Rio de Janeiro, RJ, 1882-1922), Lita Cerqueira (Salvador, BA, 1952), Maria Auxiliadora (Campo Belo, MG, 1935 – São Paulo, SP, 1974), Mestre Didi (Salvador, BA, 1917- 2013) e Rubem Valentim (Salvador, BA, 1922- São Paulo, SP, 1991).
Exposição mostra produção de artistas negros apagadas pela história da arte no Brasil
A exposição é um desdobramento do Projeto Afro (projetoafro.com), em desenvolvimento desde 2016 e lançado em 2020, que hoje reúne cerca de 330 artistas catalogados na plataforma. São nomes que abarcam um vasto período da produção artística no Brasil, do século 19 até os contemporâneos nascidos nos anos 2000. “A exposição oferece outra referência e um novo olhar da arte brasileira aos visitantes”, afirma o curador. “A história da arte do Brasil apaga a presença negra e o artista negro do seu referencial, a exposição enfatiza essa produção como central para repensarmos nossa própria história”, completa.
O trabalho de pesquisa do projeto e da exposição nasceu do desejo e, na sequência, da frustração de Andrade ao não encontrar muitas referências em torno da arte afro-brasileira no Brasil. Ao se debruçar em publicações, materiais de outras exposições (a exemplo de várias com curadoria de Emanoel Araujo nos anos 90, que mais tarde viria a se tornar diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo e fundador do Museu Afro Brasil) e inúmeras pesquisas para o mapeamento de artistas negros e suas obras pelo Brasil, Deri Andrade iniciou um minucioso projeto de catalogação de uma arte que, por vezes, foi marginalizada pela sociedade.
“Ser artista acho que já é difícil, ser artista negro no Brasil é ainda um pouco mais complicado”, afirmou o artista Sidney Amaral (São Paulo, SP, 1973/2017), em 2016, ao ser entrevistado pelo projeto AfroTranscendence. Desde a conversa, esse pensamento acompanha Andrade, que dedica parte de seu tempo a conhecer e investigar a produção artística de autoria negra no Brasil.
Deri também é pesquisador, jornalista por formação, curador assistente no Instituto Inhotim e criador da plataforma Projeto Afro (projetoafro.com) de mapeamento e difusão de artistas negros/as/es.
Os artistas do Rio na Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira
Lita Cerqueira

Impressão fotográfica – Hahnemuhle Photo Rag 308 – Crédito: Coleção da artista
Moradora do Rio, a artista é natural de Salvador e representa um dos eixos da mostra: Cotidianos. Nessa seção está uma série de fotografias suas. São imagens, em preto e branco, de momentos cotidianos protagonizados por pessoas negras.
Arthur Timótheo da Costa (1882 – 1922)

Óleo sobre tela – Crédito: Isabella Matheus
O carioca também é homenageado e conduz o eixo Tornar-se, voltado para importância do ateliê de um artista e do autorretrato. Uma tela com a imagem do pintor, produzida por ele mesmo, está entre os destaques dessa seção.
Yhuri Cruz

Coleção Galleria Continua São Paulo – Crédito: Cortesia do artista
Entre os destaques está uma peça da série “Efeitos da Maré”. Já Andrea Hygino utilizou a xilogravura para escrever em duas tábuas de madeira as palavras “Carne” e “Verbo”. A obra é parte da série Tábuas.
Kika Carvalho

Retrata em obra sem título um ateliê todo branco com seu reflexo no espelho. De Matheus Ribs é possível conferir “Fechar os Corpos III”, parte de uma série na qual ele trabalha diversas camadas da história colonial e predatória para com a sociedade e o meio-ambiente.
André Vargas

Outro destaque de um artista do Rio é a Bandeira Mulamba. Vermelha, branca e preta, com referência direta à bandeira do Brasil. A obra insere a ancestralidade e a importância histórica do povo preto no país. A peça está em exibição logo na entrada, próximo à bilheteria do CCBB. No mesmo local, chama a atenção outra bandeira, criada por André Vargas. Nela estão os dizeres “Se os pretos velhos todo o café produziram, a eles todo o café pertence”, pintados com café.
Panmela Castro

A artista participa com mais de uma obra na exposição. Entre elas está um autorretrato do início da carreira dela. Outra, que ganhou versão diferenciada para exposição do Rio, traz a frase “Eu me curei com a liberdade” em um espelho.
Guilhermina Augusti

“Xica Manicongo em Escuro Indizível” é um dos trabalhos exibidos. A partir da técnica da serigrafia, a artista retrata uma mulher, atribuída a Xica Manicongo, entre símbolos ancestrais. Elian Almeida apresenta um quadro branco bem representativo com os dizeres “A arte contemporânea é negra”.
Rafa Bqueer
Encerra a lista dos artistas do Rio com um vídeo da performance em um protesto contra ao desalojamento de uma escola de samba para dar lugar à construção de uma estação do Metrô.
Serviço
- Exposição: Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira
- Período: Até 17 de fevereiro de 2025
- Funcionamento: de quarta a segunda, das 09h às 20h (fecha às terças)
- Entrada gratuita: Retire seu ingresso em bb.com.br/cultura ou na bilheteria do CCBB
- Local: Rua Primeiro de Março, 66 – 2º andar – Centro – Rio de Janeiro / RJ
Imagem em destaque: Gui Caielli