Viagem histórica inverte Rota do Tráfico Atlântico
Redação – redacao@negrxs50mais.com.br
Uma rota marítima marcada por séculos de dor e exploração está prestes a ser refeita por cerca de duas mil pessoas. Em dezembro de 2025, um navio de cruzeiro partirá do Brasil com destino a Luanda, capital de Angola. Será uma viagem histórica no caminho inverso do tráfico transatlântico que arrancou à força milhões de africanos para a escravização. Batizado como “A Grande Travessia: o Retorno, o Reencontro, o Reconhecimento, a Reparação”, o projeto pioneiro visa transformar a memória de um crime contra a humanidade em um marco de cooperação e celebração da ancestralidade.

A iniciativa, idealizada pelo antropólogo e professor Dagoberto José Fonseca, da Unesp de Araraquara, conta com a parceria de diversas instituições brasileiras e angolanas. Viajarão artistas, educadores, empreendedores e lideranças sociais. A embarcação será palco de cursos, negócios, arte e reflexão, em um retorno simbólico dos descendentes à África. A iniciativa busca inaugurar um novo marco de cooperação cultural, turística e econômica, com promoção da reflexão, aprendizado e reconexão.
“Será a primeira travessia atlântica nessa rota em mais de 170 anos de nossa história, considerando que o tráfico transatlântico de pessoas escravizadas de Angola para o Brasil cessou oficialmente em 1850″, explica o professor Fonseca. “Objetivamos retomar esse itinerário para referenciar os que construíram o Brasil, mas, sobretudo, para relembrar, reparar e render homenagens àqueles que saíram de Angola e não chegaram. Queremos que este projeto reinaugure o trânsito de pessoas entre Brasil e Angola de maneira digna, humana e fraterna.”
Turismo de memória com programação intensa na viagem histórica
A viagem, que será gratuita para os passageiros, está programada para ocorrer entre os dias 1 e 21 de dezembro de 2025. O período coincidirá com as comemorações dos 50 anos da independência de Angola. Durante a travessia e a estada no país africano, os participantes terão acesso a uma variada programação. A bordo serão realizados cursos e seminários com seguintes temas:

- Relações culturais e históricas entre Brasil e Angola (para professores da educação básica e universitários).
- A realidade angolana e oportunidades de investimento (para empreendedores e empresários negros e antirracistas).
- Saúde da população negra.
- Turismo afro referenciado no Brasil e em Angola (para empresários e agentes do setor).
- Oficinas: culturais e terapêuticas com psicólogos, capoeira.
- Cursos sobre as relações históricas entre os dois países e oportunidades de investimento em Angola.
- Eventos com apresentações musicais, exposições, seminários e representações de terreiros de Candomblé e Umbanda.
- Encontros com representantes do Movimento Negro brasileiro e figuras do processo de independência angolano.
A proposta é que a jornada funcione como uma plataforma de intercâmbio, de conhecimento e fortalecimento de laços. Os organizadores querem privilegiar o que chamam de “turismo de memória”. A programação se estenderá durante a travessia e o período em solo angolano.
Viagem histórica em um projeto amplo de reconexão e reparação

“A Grande Travessia” integra um programa mais amplo, denominado “Reconhecer, Reparar, Religar para Seguir: memória e história dos nossos – mundo atlântico e em terra firme”. Este programa contempla projetos de digitalização e publicação de documentos do tráfico de pessoas escravizadas que estão em arquivos e instituições nos dois países.
O Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência angolana, e agora se propõe a ser o pioneiro na América do Sul a estabelecer uma rota de turismo de memória entre Brasil e África.
Fonseca destaca a importância da participação majoritariamente negra no cruzeiro: “Neste primeiro momento, o inaugural e profundamente identitário, cultural, educativo, político e diplomático, com essa travessia e com uma população negra majoritária e seus antepassados de origem Bantu e de Angola, o Brasil retoma as relações marítimas com Angola tendo uma maioria negra no navio e de diferentes setores sociais e de atividades econômicas e culturais.”

Olhares para o futuro: conexões duradouras com rotas regulares Brasil X África
O projeto não se limita a esta primeira travessia. A meta é que, a partir de 2025, novas rotas marítimas entre Brasil e Angola, e com todo o continente africano, sejam reinauguradas. O objetivo de longo prazo, até 2050, é restabelecer as rotas comerciais e de trânsito de pessoas que existiram no passado, mas para fins culturais e econômicos, marcando os 200 anos do fim do tráfico, mas desta vez em condições de dignidade e civilidade.
Entre os impactos esperados de médio e longo prazo, o antropólogo elenca:
- Empregabilidade e Geração de Renda: Para profissionais de turismo, cultura, educação, artes visuais, história, entre outros
- Intensificação de Relações Comerciais: nas áreas próximas aos portos de ambos os países.
- Impulso Econômico: geração de renda e empregos em setores como turismo, transportes, vestuários, comunicações e tecnologia da informação.
- Intercâmbio de Conhecimentos: com a criação de cursos e formação de tripulações.
- Crescimento da Indústria Naval: para fins turísticos.
Parcerias Estratégicas
Diversos órgãos e instituições já firmaram parceria com a organização do projeto. No Brasil os ministérios da Igualdade Racial, do Turismo, dos Direitos Humanos e da Cidadania, das Relações Exteriores. A Secretaria de Relações Institucionais, o Sesc – Araraquara, as universidades Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Federal de São Paulo (Unifesp), Federal de Minas Gerais (UFMG). O Institutos Galo da Manhã e Memorial Lélia Gonzales, o Sebrae Araraquara, o Sesi Araraquara e a Prefeitura Municipal de Araraquara.
Em Angola, os ministérios da Cultura, do Turismo e da Educação. A embaixada do Brasil em Angola, a Associação dos Executivos e Empresários Brasileiros em Angola (Aebran), a Câmara do Comércio Angola-Brasil, os governos da Província do Zaire (M’banza Congo) e da Província do Huambo.
Fonseca diz que o projeto reforça o papel do Brasil como ator global no Atlântico Sul. Incrementa a liderança política e diplomática na região, sua localização estratégica, frontalmente voltada para o continente africano.
Serviço:
- Evento: A Grande Travessia: o Retorno, o Reencontro, o Reconhecimento, a Reparação
- Data: 1 a 21 de dezembro de 2025
- Informações: www.agrandetravessia.com
- E-mail: contato@agrandetravessia.com


Quem dera que o turismo de memória fosse mais para recordar onde se COMEU a feijoada no Brasil e na África? Mas ok, entender que a Grande Travessia é um projeto de reparação e homenagem é respeitável. Fico curiosa para ver a programação das oficinas terapêuticas com psicólogos e capoeira a bordo! Acho que vai rolar uma integração cultural bem no estilo brasileiro: trocando saberes, mas sem esquecer a habilidade de negociar um preço melhor. Que a viagem seja digna, humana e, principalmente, com boas conexões Wi-Fi pra postar nas redes sociais!football bros
Quem diria que um cruzeiro seria a nova fronteira do reparo? A Grande Travessia promete reencontrar Brasil e Angola com uma programação que só falta incluir a aula de Como pedir um cacau na língua de Angola! Mas a ideia de turismo de memória com seminários sobre relações históricas e saúde da população negra é ousada. E o futuro de rotas regulares X África? Que tal começarmos por um Reencontro dos Empresários Negros e Antirracistas? Acho que até os terreiros virão a bordo! Um passo no mar, um passo para a história… e talvez um passo para a sacanagem no barco!
Essa Grande Travessia soa à altura do Reconhecer, Reparar, Religar, né? Um projeto tão sério que promete turismos de memória, seminários sobre escravidão e, claro, aulas de capoeira a bordo. A ideia de voltar a ligar Brasil e África com dignidade após o tráfico é ótima, mas esperamos que a viagem não tenha a dignidade da lista de parceiros ser tão extensa quanto a lista de assuntos para discutir. Que a travessia seja reinaugurada com sucesso, com direito a mais capoeira do que oportunidades de investimento que realmente ressoem, e que os organizadores não tenham que voltar a fazer uma Grande Travessia para pedir reforços.random wheel
É um Brasil X África reencontrado, desta vez a remexer no mar! A ideia de um turismo de memória com essa carga cultural e reparação é ousada, não dá? Pelo menos a gente tenta reconectar com dignidade a história que teimou em ser… histórica. Que a viagem seja digna, humana e fraterna é o desejo de todos, principalmente quem vai pagar as contas depois do 21 de dezembro. Fica por visto a ideia de reabrir rotas para 2050, comemorando o fim do tráfico… desta vez funcional! Mas acho que o maior desafio será garantir que a tripulação negra não se cancele na própria reconexão. Um projeto ambicioso, que só falta é ver quem vai organizar a rota do Olá, Angolão no barco!angel prophecy deltarune