Protesto contra racismo na busca da cura do Covid 19: África não é cobaia

Protesto contra racismo na busca da cura do Covid 19: África não é cobaia

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Gera revolta em todo mundo a proposta feita por cientistas franceses de transformar os países da África em centro de testes de vacinas contra a pandemia do Covid 19. As primeiras figuras públicas a protestarem foram os futebolistas Didier Drogba, marfinense, que atua no Chelsea e o camaronês Samuel Eto´o, que já encerrou a carreira.

Eto’o foi incisivo, chamou os médicos de “filhos da puta” e lembrou que a “A África não é seu parquinho”. Drogba escreveu nas redes sociais: “É totalmente inconcebível que tenhamos que advertir sobre isso. A África não é um laboratório de testes. Não somos cobaias. Eu quero veementemente denunciar essas declarações discriminatórias, falsas e, sobretudo, racistas”.

Samuel Eto’o

“Não tomem o povo africano como cobaia humana”

Drogba também pediu aos líderes africanos que ofereçam maior proteção contra essas ameaças: “Os líderes africanos têm a responsabilidade de proteger suas populações dessas conspirações horrendas. Que Deus nos proteja! Vamos nos salvar desse vírus louco que está despedaçando a economia mundial e devastando a saúde das populações em todo o mundo. Não tomem o povo africano como cobaia humana! É absolutamente nojento.”

O senegalês e atacante do Istambul Basaksehir, Demba Ba, também reagiu no Twitter, que dizia: “Bem-vindo ao ocidente. Onde os brancos acreditam que são tão superiores que o racismo e a estupidez são a norma.”

Didier Drogba

O defensor do Amiens, clube da França, o camaronês Aurelien Chedjou se juntou ao coro de jogadores africanos para condenar a ideia dos médicos franceses e perguntou: “Como não podemos ficar chocados com esses tipos de comentários, especialmente porque eles estão em um canal que é visto por milhões e milhões de pessoas? “É claro que estou chocado, essas declarações chocaram todo mundo, não apenas os negros, mas também os brancos que não conseguem entender essas palavras. “Como podemos testar produtos na África quando sabemos que há mais casos na Europa? Não preciso fornecer os números na Itália, França, Espanha e Portugal. Não podemos deixar esse tipo de comentário passar.”

Protestos nas redes sociais

A defesa de realização dos estudos sobre o Covid 19 na África foi feita por Jean Paul Mira, um dos diretores do hospital Cochin de Paris, e Camille Locht, diretor do Inserm (organização pública francesa exclusivamente dedicada às pesquisas biológicas) ao canal de TV LCI (La Chaîne Info). Argumentaram que no continente “não há máscaras, nem tratamentos, nem aparelhos de reanimação cardiorrespiratória”.

“Se eu posso ser provocativo, não deveríamos estar fazendo este estudo na África, onde não há máscaras, tratamentos ou ressuscitação?”, disse Jean-Paul Mira. Enquanto isso, Camille Locht respondeu durante do debate transmitido ao vivo: “Você está certo”.

Nas redes sociais os protestos se sucedem e lembram que a África serve de laboratório para experimentos de europeus há séculos. Alguns comentários dizem que o fato ratifica a história e que é mais um atestado de como a sociedade ainda animaliza corpos pretos e africanos. O pensador Achille Mbembe tem sido citado com frequência, em especial por seu conceito de “necropolítica”.

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