Benedita acusa “‘capitão do mato’ a mando” na Palmares e quer processo
Redação – redacao@negrxs50mais.com.br
Em mais uma afronta premeditada para ganhar as manchetes, o atual presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, excluiu a deputada federal Benedita da Silva (PT), 78 anos de idade, da lista de personalidades da entidade. A parlamentar protestou e afirmou que a decisão é ilegal. Pelas redes sociais o chamou de “‘capitão do mato’ a mando de Bolsonaro”. Disse ainda que entrará na Justiça contra as agressões que tem sofrido.
Do outro lado, Camargo afirmou que processará Benedita por tê-lo chamado de ‘capitão do mato” *. Utilizará como base uma condenação sofrida por Ciro Gomes por ter classificado o vereador paulistano Fernando Holiday (DEM) com a mesma expressão.
A retirada de Benedita da lista na fundação, foi anunciada na quarta-feira, dia 30. A deputada afirmou que foi “surpreendida por uma decisão arbitrária do capitão do mato que preside, a mando de Bolsonaro, a Fundação Palmares, que deveria preservar a memória e a cultura do povo negro, mas está fazendo o contrário”.
O próprio Zumbi e Mandela já foram excluídos
Camargo já havia excluído da galeria da Fundação Palmares heróis como o próprio Zumbi dos Palmares e Nelson Mandela. Benedita afirma em nota que continua, “portanto, em boa companhia, enquanto o capitão-do-mato segue sua desprezível carreira de bajulador.” A alegação formal para a exclusão é de que ela responde a processo. Benedita refuta e diz que tem 40 anos de vida pública sem jamais ter sido condenada sequer em primeira instância. Nesse período já foi vereadora, deputada, senadora, secretária, governadora e ministra.
Candidata a prefeita na cidade do Rio de Janeiro, Benedita afirma que tem sofrido ataques orquestrados de robôs nas redes sociais nos últimos dois dias. “São postagens racistas e preconceituosos contra a população das áreas pobres do Rio de Janeiro.”
Reação de racistas e ingerência eleitoral
Benedita vincula o que chama de “reação dos racistas” à apresentação de seu projeto de lei 4774/2020. Este projeto reserva para os negros 20% das vagas nas ações financiadas com recursos públicos em parceria com organizações não governamentais.
A deputada enxerga ainda uma tentativa de ingerência no processo eleitoral e, por isso, denunciará à Justiça Eleitoral. Ela classifica a ação como “interferência indevida do Poder Executivo Federal no processo eleitoral do Rio de Janeiro”. A organização de campanha de Benedita aproveitou a polêmica e realizou na tarde de hoje um tuitaço em sua solidariedade.
“Agora, mexeu com uma mulher negra, que veio da favela, venceu muitos capitães do mato e lutará até o fim contra o racismo. Ninguém vai calar 78 anos de vida, 40 anos de vida pública. Benedita não tem medo”, afirma a deputada.
O ‘Capitao do mato‘ a mando de fazendeiros para captura de escravizados que escapavam dos trabalhos forçados era uma figura presente no Brasil, pelo menos, até 1888. Grande parte desses capitães era de negros e ex-escravizados. Eles eram recrutados por conhecerem as técnicas e estratégias utilizadas nas fugas.
