Iyalorixá Iyagunã Dalzira defende tese de doutorado aos 81 anos
Redação – redacao@negrxs50mais.com.br
A Iyalorixá Iyagunã Dalzira Maria Aparecida, aos 81 anos de idade e marco da resistência negra em Curitiba, defende nesta sexta-feira, dia 23, às 10 horas, sua tese de doutorado na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A mãe de santo do Candomblé, carinhosamente conhecida como Iyá, é da sétima geração de africanos que chegou ao Brasil e um dos principais símbolos do Paraná na luta pela defesa da tradição e religiosidade africanas e contra o racismo. Sua pesquisa é “Professoras Negras, Gênero, Raça, Religiões de Matriz Africana e Neopentecostais na educação pública”.
Mineira de Guaxupé e descendente da etnia Iorubá, chegou ainda criança com os pais e cinco irmãos a Centenário do Sul, no norte do Paraná. Aos 27 anos, mudou-se com a família para Curitiba. Participou do Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e frequentou escola rural. Aos 47 anos entrou no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e fez o ginásio.
Doutorado é conquista para a sociedade
Aos 63 anos, começou a fazer Relações Internacionais e se graduou. Aos 72 anos, defendeu seu mestrado na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). O título de sua dissertação foi “Templo religioso, natureza e os avanços tecnológicos: os saberes do Candomblé na contemporaneidade”.
Para Dalzira, o título agora alcançado de doutora em Educação, além de uma realização pessoal, é uma conquista importante para a sociedade. A Iyalorixá, protetora das tradições africanas no Brasil, por meio da religiosidade de matriz africana, considera o avanço da escolarização pela graduação, mestrado e agora doutorado “um divisor de águas para o conhecimento”.
Iyalorisá iniciou no Candomblé já próximo dos 40
Filha de José Persiliano dos Santos e Maria de Jesus, meeiros negros e empobrecidos, na juventude foi ‘Filha de Maria’, uma irmandade laica da Igreja Católica. Só chegou ao Candomblé já próxima dos 40 anos, em Curitiba. Ela foi ao terreiro em busca de cura para uma insônia permanente. Passou a dormir melhor e nunca mais saiu deixou a religião, onde descobriu ser filha de Ogum.
Dalzira mantém o Ile Aseo Juboogun (“Casa da força dos olhos de Ogum”), no Bairro Alto, na região norte da capital paranaense. De lá irradia sua autoridade. É uma líder religiosa admirada por diferentes correntes teológicas, além de ser uma personalidade do movimento negro. Defensora da diversidade, afirma: “Num terreiro de candomblé ninguém é homem ou mulher. A gente não tem essa separação, creio que deve ser a única religião assim. Prezamos as pessoas. Os gays não são sobrenaturais, nem têm aqui estigmas de serem diferentes. São um irmão, um primo, alguém próximo”.
Em relação ao racismo, diz que se esforça para não ser amarga. No entanto, reconhece que nem sempre consegue. Uma de suas definições é: “O racismo, quando vem, coloca você num paredão. Não existe negro no Brasil que nunca tenha sofrido racismo. Ou você se descobre e se assume ou você se aniquila. Nunca aniquilei diante dessa fera.”
Imagem em destaque: Kraw Penas/SEEC