Rio adere à campanha internacional antirracista por Mamadou Ba
Redação – redacao@negrxs50mais.com.br
Um jantar no Rio de Janeiro na noite dessa quinta-feira, 23, reuniu acadêmicos, jornalistas, políticos, artistas e representantes do Judiciário em torno do pesquisador Mamadou Ba, intelectual e ativista antirracista que vem sendo perseguido pela extrema direita em Portugal. Há cerca de um ano ele abandonou o país europeu em função das ameaças de morte e dos 12 processos judiciais que enfrenta. Desde então refaz sua trajetória acadêmica em Vancouver, no Canadá. Está em andamento uma campanha internacional antirracista e para evitar sua deportação do país europeu.
Nascido no Senegal há 49 anos e residente há mais de 25 anos em Portugal, Mamadou Ba, tem nacionalidade portuguesa e responderá ao seu primeiro julgamento no início de abril. No Rio, o jantar foi organizado pelo professor e babalorixá Ivanir dos Santos, que destacou a importância da articulação de uma ampla frente que pressione pela absolvição de Mamadou.
Campanha internacional antirracista defende Mamadou que criticou torturador
A campanha já conta com mais de 500 depoimentos. Entre eles o do atual Ministro dos Direitos Humanos do Brasil, Sílvio Almeida. Também o do professor Boaventura de Sousa Santos. Os atores brasileiros Antônio Pitanga e Paulo Betti, e do escritor Mia Couto.
Entre os processos enfrentados por Mamadou está o de ter ofendido um herói da pátria portuguesa, o oficial do Exército Marcelino da Mata, o mais condecorado na história do país, durante o período da ditadura salazarista. Negro, nascido na Guiné Bissau, Marcelino lutou por Portugal na guerra colonial. Ele tinha orgulho das torturas que praticou contra os africanos que lutavam pela independência. Com o fim da guerra colonial ele foi morar em Lisboa, onde morreu aos 90 anos de idade durante a pandemia de Covid 19.
O partido de ultradireita ‘Chega’ homenageou Marcelino. Mamadou, indignado, criticou, em função dos crimes de guerra cometidos pelo oficial do exército português e que estava sendo enterrado como herói nacional. A lei portuguesa, no entanto, considera crime ofender a honra de heróis nacionais e o processo contra Mamodou está em andamento. O escritor angolano José Eduardo Agualusa escreveu uma crônica em seu último livro, lançado em 2022, intitulado “O mais belo fim do mundo”. Nele declara seu apoio a Mamadou Ba nesse episódio.
Na mira de juiz ultradireitista que acatou acusação de neonazista
No julgamento de abril, o primeiro marcado, um juiz com fama de ultradireitista, Carlos Alexandre, aceitou uma queixa crime feita pelo líder neonazista Mário Machado. Ele diz que Mamadou ofendeu sua honra em público. Este o associou às agressões sofridas pelo jovem negro Alcindo Monteiro, de 14 anos, em 1995, e que culminaram com sua morte.
No entanto, a justiça portuguesa julgou o ultradireitista pelo envolvimento nas agressões, mas não o culpou de assassinato. A morte ocorreu em decorrência das agressões sofridas no episódio. Mas como foi posterior Machado foi culpado.
Em uma das ameaças a Mamadou foi realizada em Lisboa uma marcha nos moldes da Ku Klux Klan. Ocorreu em frente ao seu, então, local de trabalho, a ONG SOS Racismo. Outra foi um vídeo onde Machado divulgou nas redes sociais uma montagem em que ele dá um tiro em Mamadou Ba.
Respondendo a 12 processos na Justiça portuguesa há o risco de ser deportado
Durante dois anos Mamadou Ba contou com escolta policial. No entanto, devido à atuação violenta da polícia nos bairros de maioria negra em Lisboa, deu declarações que ofenderam a instituição. Quando um tiro da polícia matou um jovem, Mamadou, entrevistado na hora, chamou a polícia portuguesa de “bosta”. Há um processo da polícia portuguesa contra ele.
Entre os 12 processos há acusações de “racismo reverso”, pois em sua atividade antirracista teria professado racismo contra os portugueses brancos. Os processos foram movidos sobretudo por membros, apoiadores e financiadores do partido de ultradireita Chega. O grupo conta com vários parlamentares eleitos e professa abertamente a xenofobia e o racismo.
Um dos deputados dessa legenda, André Ventura, é considerado o principal nome do partido para concorrer às eleições majoritárias de 2024. Ele fez um abaixo assinado com mais de 30 mil adesões para deportação de Mamadou Ba. O deputado Ventura, após os atos de terrorismo dia 8 de janeiro em Brasília, chamou o presidente Lula de bandido em reunião no parlamento português.
Desde janeiro de 2022, Mamadou vive em Vancouver, Canadá e estuda no programa de doutorado em Raça, Gênero e Justiça Social da Universidade de British Columbia. Em Portugal ele estudava na Universidade de Coimbra sob orientação de Boaventura de Sousa Santos e coorientação de Achille Mbembe.
Importante esse auto reconhecimento, basta saber se eles vão dar espaços para os mais retintos lutando na causa é pela reparação econômica para o povo preto descendentes de escravos.