Caminhada em defesa da liberdade religiosa no domingo, 17
Redação – redacao@negrxs50mais.com.br
No próximo domingo, dia 17 de setembro, será realizada a 16ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, na Praia de Copacabana. A concentração será no Posto 5, a partir das 10 horas, e as atividades seguirão até às 17 horas. Os organizadores esperam reunir cerca de cem mil pessoas ao longo do dia. Estão previstas apresentações de grupos culturais e religiosos. Entre os participantes estarão o pastor Kleber Lucas, Mestre Kotoquiho, a cantora Marina Iris e o cantor Marquinhos de Oswaldo Cruz.
No Brasil aconteceram, em média, três denúncias de intolerância religiosa por dia em 2022, de acordo com o II Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe. No dia 17 de agosto, a sacerdotisa do candomblé, líder quilombola e da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), Mãe Bernadete foi assassinada na Bahia. Em 21 de janeiro de 2000 a yalorixá Gildásia dos Santos e Santos, Mãe Gilda de Ogum, sacerdotisa do Ylê Axé Abassá de Ogum, em Salvador (BA), teve infarto fulminante após ver sua fotografia estampada no jornal Folha Universal. A reportagem a associava a charlatanismo, com o título: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”.
Órgãos públicos silenciam frente à violência religiosa
Representantes de diferentes religiões devem comparecer. Entre eles, adeptos do candomblé, umbanda, bases evangélicas, católicos, budistas, muçulmanos, judeus, wiccanos, hare krishnas, ciganos, mórmons, além de defensores dos direitos humanos. São esperados oriundos da Bahia, Minas Gerais, São Paulo e do Amazonas.
O professor e babalawô Ivanir dos Santos diz que os questionamentos sobre as motivações para os ataques de intolerância religiosa contra as religiões de matrizes africanas sempre ocorrem, desde que iniciou o projeto da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. Ele afirma que não tem como dar uma resposta pronta e acabada sobre os casos de violência. Mas, afirma: “Podemos pontuar que existe um silenciamento por parte dos órgãos de segurança públicas de administração municipal e estadual sobre os fatos.”
Caminhada se destaca na luta pela democracia e estado laico
No livro “Marchar Não é Caminhar”, Ivanir diz que “conflitos e disputas” religiosos, nunca deixaram de fazer parte das transformações sociais. “Sim, nunca deixaram, porque não existe uma unicidade sobre religiões e religiosidades, seja aqui no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo.” No entanto, aponta que ao longo dos anos, a Caminhada tem chamado a atenção da sociedade civil e das autoridades públicas para os riscos antidemocráticos, diante do crescimento dos casos de intolerância religiosa.
A Caminhada se destaca na luta pela democracia, pelo estado laico e de combate à intolerância religiosa. Acontece sempre no terceiro domingo do mês de setembro, com organização da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa – CCIR e do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas – Ceap.
Houve avanços contra intolerância, mas número de casos quintuplicou
A primeira foi realizada em 2008, em reação aos episódios de intolerância religiosa que aconteceram no Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Na ocasião, adeptos das religiões de matriz africana foram expulsos da comunidade pelo traficante Fernandinho Guarabu. O então chefe do tráfico local, impedia o uso das vestes religiosas e de seus fios de conta.
“Lá se vão 16 anos desde a ousada decisão de tornar público o trabalho de desconstrução de preconceitos milenares, liderado por Mãe Fátima Damas e babalawô Ivanir dos Santos. E, nesses anos houve, sem dúvida, progresso substancial. Mas será suficiente? Infelizmente não. Todo dia surgem novos casos de agressões físicas ou verbais, depredações, profanação de locais sagrados. O número de casos quintuplicou ano passado e, neste, são notícias diárias, de Norte a Sul”, declarou Diane Kuperman, da Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro – ARI.
Imagens: reproduções de video de divulgação do evento