Sandra Portella, a crocheteira de impacto social

Sandra Portella, a crocheteira de impacto social

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Por Ivan Accioly – ivan-accioly@negrxs50mais.com.br

Ela se apresenta como crocheteira “de corpo e alma”, e, quando necessário diz, “também ataco de costureira, apesar de não gostar muito de costurar.” Sandra Portella é uma negra, de 58 anos e que, por contingências da vida, como diz, virou uma empreendedora de impacto. Atualmente gera nove empregos para mulheres e tem seus produtos em espaços frequentados pela elite carioca e por turistas.   

O crochê de forma profissional entrou em sua vida como uma opção de geração de renda depois que no ano de 2006 ficou desempregada. Até então, tinha trabalhado onze anos na Mesbla e sete no Ponto Frio. Com a nova realidade, viu no croché, que já fazia desde a infância, um caminho e começou a produzir panos de pratos. Logo entendeu o potencial, pois conseguia em pouco tempo vender toda produção. No passo seguinte incluiu enxovais entre as criações.

Cuidados com o filho Léo e diversificação dos negócios por meio de parcerias

Sandra e o filho Léo - Sandra Portella - crocheteria
Sandra e o filho Léo

Em pouco tempo estava envolvida com ONGs no ramo do artesanato e animada com o processo. Mas a vida botou alguns obstáculos, como a morte da mãe logo na sequência do desemprego. Como consequência veio um o problema a resolver, que era como dar atenção ao filho Léo, de 42 anos de idade, que demanda cuidados especiais e que ficava sob os assistência da mãe.

De qualquer forma, conseguiu dar sequência à produção e encontrou parcerias para diversificar seus produtos ao mesmo tempo que evitava gastos com matérias primas e ajudava o meio ambiente com o com reaproveitamento de retalhos de lycra obtidos em uma fábrica de biquinis próxima à residência em Campo Grande.

O trabalho deu certo e algumas marcas a contrataram. Na linha de produção entraram também blusas e bolsas. Mas um problema seguia sem solução, seu próprio nome não aparecia em lugar algum e ela achava um risco, pois ficava faltando identificação aos produtos. Mas esse era um problema menor. Em 2015 sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e se avolumaram as dificuldades. No entanto, a doença foi também a senha para mudança.

Prescrição médica indica a volta ao croché

Como prescrição médica para recuperação de um quadro de depressão, provavelmente decorrente das limitações decorrentes do AVC, uma psicóloga com quem se tratava na Rede Sarah recomendou que identificasse e fizesse o que gostava. Não teve dúvidas e mergulhou no crochê. Com a prática, aos poucos, recuperou os movimentos das mãos.

Em 2017 viu um anúncio da Rede Asta, uma organização social que potencializa nano empreendedores e seus produtos artesanais por meio de educação e apoia no acesso ao mercado, além de oferecer uma rede de apoio. Não teve dúvidas e se inscreveu. Fez seis meses de curso e, ao final, fechou uma parceria com a marca carioca Farm, que passou a doar retalhos às artesãs.

Sandra, então, incorporou bolsas de tecido e crochê à produção. A atividade estava dando certo e, mas o público consumidor dos produtos ficava distante de sua moradia, no sub bairro de Campinho, em Campo Grande. “O pessoal da região não valorizava meus produtos, percebi que era bem recebido na Zona Sul, mas não nas vizinhanças”, diz Sandra.  Como solução para facilitar a visibilidade, em 2018 criou um perfil no Facebook e começou a investir em equipamentos para produção. No entanto, ainda viria mais um obstáculo. Em 2020 chegou a pandemia da Covid 19.

Matéria em noticiário da TV impulsiona o negócio

Foi um susto com a perspectiva de recuo nos negócios. Porém, ainda em novembro do mesmo ano, uma entrevista feita para TV Globo mudou a sorte. Dentro das limitações impostas pela pandemia a emissora pediu que Sandra gravasse um vídeo e enviasse para uma matéria veiculada no RJ TV. A partir daí, passou a receber contatos e apareceu um pedido com volume de atacado. Acendeu o alerta, pois constatou que não daria conta da encomenda sozinha.  Foi quando chamou uma vizinha – Cidália – e juntas conseguiu atender ao pedido.

Sandra Portella - acessórios

Em janeiro do 2021 vendeu R$ 4mil, com a produção de 200 peças entre bolsas, nécessaires e carteiras. Vieram novos pedidos e também novas ajudantes que recrutou entre mulheres de região. Com sua rede de contatos, conversou com um consultor que sugeriu que ela devia investir em vendas Zona Sul da cidade. Lembrou, então, de uma conhecida da ‘Parcerias Carioca’, uma loja participativa que abre espaço de vendas e conseguiu um espaço para venda dos seus produtos.

Na mesma época identificou que mães formavam um público de interesse do negócio e entrou para um grupo chamado ‘Mães que produzem’, no Facebook e WhatsApp.

De MEI a geradora de empregos para nove mulheres

Para atender à demanda do mercado, abriu uma MEI que batizou com o próprio nome, Sandra Portela.  O faturamento do negócio cresceu e atualmente é uma microempresa que emprega nove mulheres.

“Fico toda boba, pois sou reconhecida como empreendedora de um empreendimento social e gero oportunidades, pago um salário justo e valorizo as mulheres da minha região que estão na empresa. Estamos escrevendo uma história de impacto social, onde cada bolsa carrega não apenas estilo, mas também um propósito em nossa comunidade.”

Sandra afirma que já fazia todo esse processo, com a preocupação social, sem saber que em algum momento seria reconhecida dessa forma. Hoje é chamada para projetos sociais e incluída na ESG como um projeto de Sustentabilidade Social. Tem uma loja virtual, mantém o relacionamento com a “Parceria Carioca”, onde mais vende, e distribui espaços em espaços como Jardim Botânico, Copacabana e Laranjeiras. Em 2024 Sandra foi incluída no livro sobre Histórias de Inspiração editado pelo Sebrae, uma homenagem com direito a troféu. Na época a empreendedora destacou: “Estou muito feliz com mais essa conquista e quero agradecer a todos que de alguma forma me ajudaram. Seja em cursos, dicas, aulas, orações, seguindo ou comprando um produto meu. Sem vocês não seríamos nada.”

Contato

Imagens: Instagram da Sandra Portella

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