Santa Marta é a primeira favela do Rio de Janeiro sanitizada contra Covid-19

Santa Marta é a primeira favela do Rio de Janeiro sanitizada contra Covid-19

Share With Your Friends

Por Tatiana Lima – do Núcleo Piratininga de Comunicação

Thiago Firmino, guia de turismo em favela, cria do Morro Santa Marta, na zona sul do Rio, é protagonista de ação de combate ao novo coronavírus na cidade. Por conta própria, ele teve a ideia de higienizar os becos e vielas do Santa Marta contra o Covid-19, inspirado em ação da China, que sanitizou, no fim de março, três comunidades na cidade.

Testes no Santa Marta começaram no sábado e o equipamento passou a ser usado no domingo (05/04). “Eu estava ajudando na divulgação da distribuição de cestas e de conseguir doação, mas depois fiquei pensando que se tudo tiver sujo, muita gente pode morrer! Não dá pra esperar o Estado. Não tá fazendo nem na pista, que dirá aqui no morro”, afirma. Foi quando Thiago teve a ideia de fazer a ação por conta própria inspirada na China e em Niterói.

A questão era como comprar o equipamento, a roupa de proteção e o produto químico. Ele pensou primeiro em abrir uma vaquiinha online, mas chegou à conclusão de que a ação precisava ser iniciada rapidamente e arrecadar recursos assim demora. Foi quando resolveu pedir ajuda a um amigo produtor e outro rapper para comprar dois atomizadores costais – “é tipo um soprador de produtos químicos”, nas palavras dele – e os demais equipamentos de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). O custo total do investimento foi de R$5 mil, sendo que um dos apoiadores doou R$3.500 e outro R$1.500.

Mesmo assim, ainda faltou dinheiro pra compra do produto quaternário de 5ª geração. Uma garrafa de cinco litros do produto custa em média R$200. “A higienização com quaternário de amônio de quinta geração é o ideal porque os efeitos duram mais tempo. Coisa de até dois meses em ambiente aberto por criar uma película protetora. Mas, esse produto é inviável. É Muito caro”, explica.

Necessário ajuda para mais doações

Thiago conversou com pesquisadores biólogos e químicos da Fiocruz, que deram a dica de usar água sanitária (hipocloreto de sódio) diluída em água e disseram a proporção a ser usada. Os testes começaram sábado (04/04) e a ação de sanitização já foi feita no domingo (05/05). Ao todo, ele precisou da ajuda de cinco moradores – que também usaram e os equipamentos de proteção individual (EPIs) básicos: luva e máscara.

“A cada 20 passos, acaba a mistura hipocloreto de sódio e água. Eu preciso de uma equipe enquanto estou soprando já fazendo a proporção para não desligar o motor e recomeçar”, ressalta. E completa: “Contamos com ajuda, além disso, dos moradores lavando as portas e donos de vendinha para fornecer água. Assim a gente consegue higienizar os becos e vielas principais, as estações do bonde e a quadra da escola de samba”.

Ele segue precisando de ajuda de empresários para conseguir doações de produtos mais eficientes para realizar a sanitização na favela, usando o quaternário de amônio como referência, além de gasolina, óleo dois tempos – porque o motor do atomizador pra funcionar precisa dos dois produtos e o gasto é alto. As doações, segundo Thiago, podem ser feitas entrando em contato com o telefone (21) 99177-9459. “Inclusive, também de água sanitária. Se um empresário ou mercado quiser ajudar, a gente agradece e aceita. Porque o produto é mais barato, mas a quantidade usada é alta”, lembra.

Previsão de grande queda do turismo em favelas

“O turismo é o primeiro a parar e o último a voltar”, afirma Thiago. Ele, que trabalha com turismo em favelas há vinte anos, se preocupa não apenas com a sua condição, mas com a do setor. “Quando voltar todo mundo ao trabalho, todo mundo volta para sua área, a gente não vai poder voltar”, afirma. “A previsão do setor é para o brasileiro voltar a viajar de agosto pra lá. Mas estrangeiro, só vai liberar avião pra cá lá pra dezembro. Fora que vai surgir um preconceito com o turista. Então, eu vou ter que ver outro trampo.”, pondera.

Cria do Morro Santa Marta, ele e a companheira vivem do setor do turismo. “Ela trabalhava numa loja de artesanato no Santa Marta, mas está tudo parado. Estamos os dois sem renda”, conta. O casal vem se sustentando – e ajudando algumas famílias – com as economias e renda gerada da alta temporada do turismo. “Estou muito preocupado. Já teve caso de hostilidade a uma pessoa na Rocinha que era morador, mas acharam que era turista. Vai demorar a voltar o turismo nas favelas por causa do preconceito.”

Ele também lembra que a orientação inicial das autoridades públicas do não uso de máscaras de proteção contra o Covid-19 provocou mais preconceito. “As pessoas passaram a acreditar que quem usa as máscaras está doente, porque diziam que era só se você tivesse teste confirmando o coronavírus ou suspeito que deveria usar”, reclama.

Na última quinta-feira (02/04), o Ministério da Saúde alterou a orientação para a população sobre o uso de máscara para proteção do Covid-19. Agora, médicos, infectologistas e diversos canais de mídia vêm incentivando a população a fazer máscaras caseiras. Porém, importante ressaltar, que apenas os EPIs com certificado do Inmetro garantem proteção de 100%.

Falta da água no morro dificulta o trabalho

“Dois meses antes da pandemia, a Defensoria Pública fez reunião com a Cedae. Todo dia caía agua no morro. Foi anunciar a pandemia do coronavírus que passou a cada dia sim dia não, a faltar”, conta Tiago Firmino. E conclui: “Eles acham que a gente desperdiça água porque dizem que morador toma banho no chuveiro na laje ou enche uma piscina de criança. Isso é desperdício onde? Quer dizer que a gente não tem direito no calor do Rio de se refrescar? Tomar banho? Água é direito básico, não é favor não”. Segundo ele, os moradores do Santa Marta pagam uma taxa de R$38 por fornecimento de água e esgoto que, em muitos becos e vielas é a “céu aberto.

www.santamartapedeajuda.com

negrxs50mais