Covid matou 128 quilombolas, Rio de Janeiro é estado com mais mortos

Covid matou 128 quilombolas, Rio de Janeiro é estado com mais mortos

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Redação – redacao@negrxs50mais.com.br*

Até esta terça-feira, dia 07 de julho, 128 pessoas morreram nos territórios quilombolas em decorrência da pandemia Covid-19. Dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) indicam que são 2.590 casos de contaminação em quilombos de 20 estados. No momento há 197 casos em monitoramento.

O Rio de Janeiro é o estado com maior número de mortos, 36; seguido pelo Pará, com 35; e Amapá, com 16. Nesta semana, Rio Grande do Norte e Tocantins entraram para a relação de estados com óbitos.  A Região Norte concentra 42,4% das mortes. O Sudeste vem depois com 32%.

Subnotificação por autoridades sanitárias

A Conaq tem denunciado a subnotificação por parte das autoridades sanitárias. “Nos municípios onde não há discussão sobre as questões raciais eles nem evidenciam os casos em comunidades quilombolas”, afirma Isabel Cristina, coordenadora da Conaq pelo Ceará.

O aumento do número de óbitos e a ausência de ações efetivas do Estado brasileiro para o combate à proliferação da Covid-19 nos territórios quilombolas têm forçado as organizações quilombolas estaduais a criarem metodologias de monitoramentos dos casos nos quilombos. Foi a saída encontrada para minimizar o desleixo das autoridades.

“O movimento nacional quilombola nos fortaleceu e criou mecanismos para a gente saber quantos de nós estão doentes. Mas a ausência do Estado está muito evidente em várias formas de violências, para além da assistência em saúde”, enfatiza Núbia Cristina, coordenadora da Conaq- AP.

Plataforma virtual apresenta dados

Com o monitoramento mais rigoroso, as coordenações estaduais têm compartilhado o levantamento dos casos e a preocupação com a falta de segurança a que estão acometidos os territórios.

Os dados levantando pela Conaq junto às comunidades quilombolas, ficam disponíveis na plataforma virtual: quilombosemcovid-19.org, criada em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA).

Fonte: Conaq


Pará, Rio de Janeiro e Maranhão são os estados com os maiores números de quilombolas infectados. Os três somam 90,7% do total de casos confirmados entre os 20 estados. “Já vivíamos em situação de falta de políticas públicas onde a saúde, principalmente, já era caótica. Com a chegada da Covid-19 a situação piorou de forma que o sofrimento tem sido imenso entre nós”, diz Magno Nascimento – coordenador da Malungu-PA.

A região Norte do Brasil concentra 39,9% do total de pessoas contaminadas, relacionadas no levantamento autônomo da Conaq, seguida pelas Regiões Sudeste e Nordeste com 33,7% e 26,01 %, respectivamente.

Covid-19 evidencia ausência do Estado

Rejane de Oliveira, coordenadora da Conaq pelo Rio de Janeiro, estado que lidera o índice de óbitos e é o segundo com o maior número de contaminações, avalia que a Covid-19 evidencia as ausências do Estado brasileiro junto aos territórios quilombolas. “A Covid-19 está quebrando muita coisa, principalmente o racismo”, enfatiza.

A Região Nordeste, a terceira mais afetada pela Covid-19, registra 29 óbitos. “Onde há vidas, há esperança, pois vidas quilombolas importam” ressalta a coordenadora Isabel Cristina.

A dificuldade de deslocamento dos quilombolas para os centros de atendimento em saúde mais estruturados e a falta de efetividade do Estado em realizar os testes corroboram para com a subnotificação do crescente número de casos entre a população quilombola. “Fica complicado para a gente ter noção de quantos de nós precisam de, pelo menos, apoio moral, porque a gente não tem condições de fazer o papel do Estado e ofertar atendimento em saúde” conclui Cristina.

Como apoiar os territórios quilombolas:

Uma campanha liderada pela Uneafro e militantes dos movimentos e entidades parceiras arrecada recursos para atendimento a oito quilombos, em cinco estados. As famílias recebem cesta básica acompanhada de kit de higiene, assim como ajuda financeira para despesas básicas de professorxs, estudantes e coordenadorxs de núcleos da Uneafro.

As contribuições podem ser feitas na plataforma de crowdfunding Vakinha ou por transferência bancária para o Banco do Brasil
Agência: 1202-5 – Conta corrente: 74414-X.
Titular: Associação Franciscana de Defesa de Direitos e Formação Popular – AFDDFP
CNPJ: 11.140.583/0001-72 Dúvidas: uneafrobrasil@gmail.com

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*Com informações da Ascom da Conaq (Maryellen Crisóstomo)

Imagem destacada: Casa de farinha do Quilombo de Cordoaria
Foto: Alberto Coutinho/GOVBA

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