Nei Lopes lança livro com olhar sobre a tradição do Ifá
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Por Affonso Nunes, do Na Caixa de CD* – redacao@negrxs50mais.com.br
O cantor e compositor Nei Lopes é consagrado e reconhecido com uma das vozes mais importantes do samba e da nossa música popular. Mas sua contribuição à cultura negra e sua ancestralidade vai além dos maravilhosos sambas com que nos presenteia desde 1972. Nesta quinta-feira, 16, chegou às livrarias online seu livro com olhar sobre a tradição do Ifá . Trata-se de “Ifá Lucumí – o resgate da tradição” (Pallas Editora), que aborda uma vertente religiosa africana que vem sendo redescoberta no Brasil e em Cuba.
Com sua maestria na prosa, Nei Lopes lança, em seu sétimo livro, um olhar profundo sobre o Ifá, o oráculo do povo iorubá intimamente ligado ao orixá do destino, Orunmilá, e que pode ser exercido somente por babalaôs.
A infinidade de saberes que compõem este sistema se concentra nas narrativas dos Odus, signos através dos quais o oráculo responde as questões propostas, expressando as possibilidades, presentes ou futuras, da pessoa, circunstância ou situação cujo destino se deseja saber.
Nei Lopes mergulha na tradição cubana lucumí
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Na África, berço da civilização, não poderia ser diferente em uma prática de oráculos que acompanha a grande aventura humana e está presente em vários continentes e culturas, como os descritos na tradição greco-romana, o I Ching chinês ou as runas dos povos escandinavos.
A tradição iorubá, nos ensina Nei Lopes, identifica 16 signos principais, cujas combinações se desdobram em 256 odus – e cada odu é uma espécie de mapa que reúne um punhado de poemas, histórias e propósitos, indicando caminhos para os indivíduos. “Ifá Lucumí” resgata as origens e influências deste sistema de crenças em vasta porção do continente africano e contribui para refazer seu percurso até as Américas, a bordo de navios negreiros, e as adaptações sofridas em seu desembarque além-mar.
Iniciado na tradição do Ifá desde 2000, Nei Lopes mergulha na tradição cubana lucumí que vem, há 30 anos, ganhando espaço nos terreiros de candomblés no Brasil – muitas vezes, criando tensões com os defensores dos ritos tradicionais. “Este livro não ensina Ifá. Meu objetivo é apenas o de apresentar uma forma de religiosidade tão antiga quanto mal conhecida ou mal interpretada; que une espiritualidade e racionalidade, filosofia e tecnicidade”, explica Nei Lopes, que descreve e fundamenta essas práticas rituais erroneamente consideradas como crendices ou superstições. “Ifá é um sistema completo de comunicação com o mundo invisível”, reforça o autor.
Compilação de saberes das práticas espirituais na diáspora
O pesquisador Luiz Antônio Simas, parceiro de Nei na autoria do Dicionário de História Social do Samba, destaca a preocupação do autor de não revelar os segredos iniciáticos do Ifá. “Temos aqui uma compilação da impressionante quantidade de saberes contidos em Ifá, tais como ditados, parábolas, poemas e narrativas de enorme importância na investigação das repercussões que os fluxos e refluxos entre África, Brasil e Cuba engendram nas práticas espirituais na diáspora”.
![Nei-Lopes](https://negrxs50mais.com.br/wp-content/uploads/2020/03/nei-lopes2.jpg)
Bacharel em direito e ciências sociais, Nei tem uma vasta bibliografia que se dedica a preencher as importantes lacunas culturais deixadas pela diáspora africana no Brasil, mas não seria justo com nossos leitores falar de Nei Lopes e não lembrar de sua importância para a música brasileira. Por isso, deixo aqui o link para a versão completa de um de seus álbuns mais significativos que é “A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes”, de 1980, com seu grande parceiro de samba e vida: