Crescem redes de apoio a profissionais prejudicados pela Covid 19
Por Redação – redacao@negrxs50mais.com.br
Crescem as redes de apoio aos profissionais que tiveram suas fontes de renda prejudicadas pelo necessário isolamento social no enfrentamento à pandemia Covid 19. Nesta semana Mestre Penha, 66 anos de idade, comandante de bateria de vários dos principais blocos de carnaval do Rio, foi um dos beneficiados pela iniciativa de um grupo de amigos.
Quem também está contando com a mobilização é o Chico, sócio do extinto Chico e Alaíde, que passou a vender refeições com entrega domiciliar. Outro que se valeu das redes foi o músico e jornalista Luís Filipe Lima, que chegou a anunciar a venda de seu violão, companheiro há mais de 25 anos nas rodas de samba e blocos de carnaval cariocas. A venda foi suspensa pela sensibilização coletiva que levou à criação de uma vaquinha virtual para ajudá-lo a levantar recursos para cobrir as dívidas.
Mestre Penha, 50 anos de baterias
Figura querida do carnaval de rua da cidade, Mestre Penha começou a carreira nos blocos há 50 anos, quando, aos 15, estreou na bateria do Canarinhos das Laranjeiras. Lá foi diretor, mestre e presidente da bateria. Na sequência foi para a Portela, onde permaneceu por 18 anos. A parada seguinte foi na Unidos da Ponte, seguida pelo Foliões de Botafogo e Tradição.
Entre os blocos da retomada do carnaval de rua, o primeiro, há 35 anos, foi o Simpatia É Quase Amor, onde está desde o segundo desfile. No Escravos da Mauá está há 20 anos. Além desses, comanda as baterias do Imprensa que Eu Gamo, do Bloco de Segunda e do Meu Bem Eu Volto Já.
Ao longo do ano mantém a Escola de Percussão Mestre Penha, no Morro Azul, favela situada no bairro do Flamengo, na Zona Sul carioca, com aulas de instrumentos como o surdo, a caixa, repique e agogô, além de samba no pé. A professora de samba é Michelle Ferreira, conhecida como a rainha das baterias comandadas por Mestre Penha e com quem está casado há 20 anos.
Foto: acervo pessoal do Mestre Penha
Oficinas de percussão e viagens pelo mundo
“Todos os desfiles de cada bloco começam aqui na oficina. Aqui estão os instrumentos e aqui faço os ajustes necessários neles. Assim como recruto boa parte dos ritmistas.” A oficina – destaca Penha – fica próximo à saída do Metrô, com fácil acesso para os alunos.
Para informações sobre valores e inscrição nas oficinas, basta mandar um e-mail para mestredosblocos@gmail.com ou ligar para 21-96424 6663.
É lá também a sede do bloco “Se essa rua fosse minha”, que “desfila parado”, nos sábados dos desfiles das campeãs. Penha explica que é a hora de reunir os ritmistas e amigos que passam os dias de carnaval tocando nos diversos blocos e escolas da cidade para uma diversão descontraída na Praça Sandro Moreira.
Com a bateria Mestre Penha conheceu boa parte do mundo. Durante 15 anos, a partir de 1995, levou o “Samba Show”, seu grupo de ritmistas para apresentações em países da África, Europa e ao Estados Unidos. “Fazia o carnaval nessa época, maio, junho, no verão deles. Juntava o pessoal daqui e íamos levar a cultura brasileira pelo mundo”.
Estresse, aulas suspensas e crise financeira
Pai de cinco filhos (Edna, Dandara, Leonardo Vicente, Jairo e Remerson) e avô de Tiago, Daniel e Débora, Mestre Penha teve que suspender as aulas na oficina e a crise financeira o abateu. Recentemente se viu às voltas com problemas de saúde, como o diabetes. “Muito estresse, muitas responsabilidades para dar conta e a situação ficou difícil. A glicose chegou a mais de 580”
Quando os amigos resolveram fazer uma vaquinha, aceitou feliz pelo reconhecimento que viu chegar de diversas partes. “Realmente fiquei emocionado. Estou precisando, aceito e agradeço os apoios de todos.”
A emoção é equivalente à que diz ter sentido no carnaval deste ano, quando foi convidado pelo Mestre Nilo, para ajudar a puxar a bateria da Portela, ao lado de Marçalzinho. “Desfilar na Sapucaí é sempre fantástico, ainda mais sendo convidado pela minha escola.”.
Quem desejar colaborar pode fazer o depósito na Caixa – Agência: 211 – Conta Poupança: 28279-0. Caso seja necessário o CPF, basta ligar para o 21-96424 6663.
Chico leva gastronomia de botequim em casa
Francisco Filho, o Chico, ex-garçom do Bar Bracarense e ex-sócio do Chico e Alaíde e, até o início do isolamento, no Combinado Carioca, também conta com a rede de amigos para passar esse período. Recorreu, então à sua especialidade, a gastronomia. Desde a semana passada passou a oferecer almoços. Entre os pratos, que variam, estão a rabada (para 2), por R$60,00; o Bobó de Camarão por R$ 80,00; o pernil com acompanhamentos, por R$48,90; o sanduíche de pernil simples, por R$20,00 e com abacaxi e queijo por R$25,00; já a porção de pernil sai por R$45,00.
O telefone para pedidos é 9974-69772.
Seu Sete segue disponível para o samba brasileiro
Acompanhante ao violão, entre outros de Dona Ivone Lara, Elton Medeiros, Nei Lopes, Monarco, Wilson Moreira, Wilson das Neves, Walter Alfaiate, Délcio Carvalho, Pedro Miranda, Verônica Sabino, Soraya Ravenle, Marcos Sacramento, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Alcione, Luiz Carlos da Vila, Sombrinha, Elza Soares, Teresa Cristina, Nilze Carvalho, Áurea Martins, Ana Costa, Fabiana Cozza, Zé Katimba, Gilberto Gil, entre muitos outros, o músico e jornalista Luis Filipe de Lima, 53 anos de idade, essa semana jogou a toalha e botou à venda o instrumento de trabalho que o acompanha há 15 anos. Em um texto explicou que os convites de trabalho minguaram, mas os boletos seguem chegando.
Rapidamente os amigos se mobilizaram e abriram uma vaquinha virtual para ajudá-lo. Em três dias foram arrecadados R$85mil, o que permitiu preservar o violão (Seu Sete) que fora anunciado por R$12mil. Luis Filipe diz que pagará as dívidas atuais e fará “uma reserva para os meses difíceis que ainda vêm por aí. Graças a isso, vou também poder investir em equipamento básico de vídeo, áudio e iluminação para os cursos online de violão e de história da música brasileira que já começo a preparar.”
A rede de Luis Filipe vai além desses grandes nomes da música que já acompanhou. Estão frequentadores de rodas de samba cariocas e foliões dos blocos de rua, onde também já tocou, como o Imprensa Que Eu Gamo, Simpatia, Suvaco do Cristo, Barbas, Bloco de Segunda, entre outros. Foi também com o Seu Sete que desfilou na Sapucaí com o Império Serrano e que gravou mais de dez discos (Luis Felipe já não sabe precisar) do Grupo Especial das escolas de samba do Rio de Janeiro. E é ao violão que credita o fato de há 14 anos ser jurado do Estandarte de Ouro.
Para contribuir, entre em http://vaka.me/1071666
Quilombo Cultural Afrocarioca pede apoio
Dois espaços dedicados à cultura negra também recorrem às colaborações coletivas para enfrentar a crise da pandemia. O Instituto Black Bom (IBB) e o Espaço Cultural Casa do Nando lançaram a campanha “Quilombo Cultural Afro-Carioca”, cujo objetivo é captar recursos financeiros para manutenção desses espaços. São duas iniciativas afro centradas e atuantes desde 2014 na Pequena África, região portuária no Centro do Rio. Os valores arrecadados servirão para o custeio de despesas e auxílio financeiro aos seus colaboradores, além da doação de 500 refeições na região, ao longo de cinco meses.
O projeto faz parte de uma rede solidária de ações sociais realizadas em parceria com o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, que serve como ponto de apoio aos trabalhadores da cultura popular carioca, que oferece atendimentos voluntários, a distância, de serviços sociais, orientações de prevenção à Covid- 19 e o cuidado com a saúde mental familiar.
O IBB é uma iniciativa surgida em 2017, para suprir a falta de espaços a baixo custo, para o desenvolvimento de iniciativas empreendedoras, dos mais variados setores produtivos da comunidade negra e periférica. Reúne artistas e produtores negros, que atuam na promoção da cultura afrocarioca e tem como ferramenta de desenvolvimento social e econômico a cidade do Rio de Janeiro.
Matchfunding triplica apoios arrecadados
A Casa do Nando é um espaço cultural que realiza diferentes atividades, tais como shows musicais, saraus e festas, além de ser um centro gastronômico de linha africana. A Região central e Portuária da cidade, conhecida como Pequena África. Região marcada pela memória da escravidão e cultura negra. O local abriga a primeira favela do Brasil no Morro da Providência, o Quilombo Urbano Pedra do Sal e o Cais do Valongo, reconhecido como Patrimônio da Humanidade.
O sistema de arrecadação adotado foi o matchfunding, que é como uma vaquinha turbinada, que mistura o financiamento coletivo (ou crowdfunding) com aporte de parceiros, que multiplicam a arrecadação. Para cada R$ 1 arrecadado pelos projetos selecionados por meio da plataforma da Benfeitoria, o Fundo Colaborativo Enfrente contribui com mais R$ 2, até que o valor de R$30.000 seja alcançado.