Awurê lança o primeiro álbum e reafricaniza o samba

Awurê lança o primeiro álbum e reafricaniza o samba

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Por Na Caixa do Cd* – redacao@negrxs50mais.com.br
Fotos: Awurê em Madureira – Instagram do grupo

Quem já foi a Madureira ouvir boas rodas de samba certamente já ouviu falar do Awurê. Há três anos acontecia o primeiro encontro do grupo que, desde suas origens, sugere a reafricanização do samba, um reencontro com suas raízes mais aprofundas numa comunhão aquilombada, digamos assim. Neste Dia de Sebastião, o padroeiro da Rio de Janeiro, o projeto completa três anos e presenteia os cariocas. O Awurê lança o primeiro álbum, um EP, e o trabalho estará disponível nas plataformas digitais e uma live de lançamento pode ser assistida neste link.

“Awurê” traz seis canções inéditas e tem como música de trabalho uma composição de Teresa Cristina em parceria com Raul di Caprio – homônima ao nome do grupo e do álbum. Tem, ainda, a participação afetiva e efetiva do Ogan Bangbala que, aos 101 anos, é o mais antigo Ogan vivo no país. Toca ritmos atravessados pelos tambores de diversas células rítmicas oriundas da riqueza do legado africano. O grupo formado por Fabíola Machado, Arifan Jr., Anderson Quack e Pedro Oliveira resgata a ancestralidade e combate a intolerância com arte.

Teresa Cristina só tem a agradecer

Duas semanas após visita para conhecer o quintal do grupo em Madureira, Teresa Cristina compôs a música de trabalho do grupo, que remete à sensação que ela e seu parceiro Raul di Caprio tiveram. A canção parte de um Ijexá que, aos poucos, chama uma batida eletrônica e a sanfona. 

“O que o Awurê nos traz é de uma beleza do tamanho que a gente merece! É muito bonito ver a pesquisa que eles fazem, o cuidado que eles têm. A gente chega no lugar e tem uma folha no chão, um repertório pensado no que a gente está vendo. Estou muito feliz em saber que, mesmo na situação que o Rio de Janeiro está, existe um lugar, um grupo, uma intenção de mostrar a beleza da cultura negra. Isso é uma coisa que não dá para falar em muitas palavras. Eu só agradeço”, afirma a cantora e compositora, nossa querida rainha das lives.

“O fim do círculo é sempre recomeço”. O trecho de “Opaxorô”, uma das faixas do EP, é definidor da proposta do grupo em sua estreia fonográfica. “Através deste repertório, consolidamos a construção de toda nossa trajetória, pesquisa sonora e mistura de sons onde os tambores são os catalizadores dessas misturas de ritmos. Um sonho planejado, mas que teve que ser redefinido”, lembra Arifan Jr, ao falar sobre o processo de construção do álbum. “Quando pensamos em lançar o financiamento coletivo, fomos surpreendidos pela pandemia. Nós vivemos de arte, não temos empresários ou patrocínio, e tivemos que fazer muitas escolhas – uma delas foi cancelar a agenda a partir de março de 2020”.

Boa sorte, bênçãos e prosperidade

O grupo precisou, forçosamente, mudar toda sua estratégia. “Foi um ano de muito aprendizado e de olhar o que somos não somente como grupo musical, mas também como o que construímos de conceito e identidade”, reforça Arifan sobre o álbum que traz ainda as canções “Filó”, “Oyá Oyá”, “Ponto da Cabocla da Mata” e “Pout-Pourri Samba de Roda”.

O termo ioruba Àwúré faz menção e desejo de boa sorte, bênçãos e prosperidade. Nascido sob a rica influência de ritmos de matriz africana, como o samba, ijexá, jongo, samba de roda e toques de candomblé, o Awurê despontou de Madureira para palcos Brasil afora. Já esteve no Teatro Oi Casagrande, Teatro Rival, Teatro da UFF, Solar dos Abacaxis, Museu Capixaba do Negro e  Prêmio Atabaque de Ouro, entre outros. Feliz aniversário, Awurê!

E, para entrar no clima, fiquem com dois momentos marcantes do grupo. Uma é o clima das rodas mensais realizadas em Madureira até a chegada do covid-19. A outra é uma apresentação no Teatro Rival. Foi a primeira do grupo num teatro, em 4 de outubro de 2019. “O Teatro Rival recebeu nosso primeiro show em um palco. Para nós e para nosso público foi uma emoção muito forte. Comemoramos muito essa pequena conquista e foi mais um degrau que subimos nessa jornada profissional com nosso trabalho. Depois até fomos para mais uma apresentação no Teatro da UFF, no Centro de Artes. Se não fosse a pandemia, o show teria rodado por muito mais palcos do Rio e do Brasil”, afirma Fabíola.

Fabíola, a voz feminina do Awurê, aceitou o convite do site e gravou um episódio para o podcast Faixa a Faixa. Nele comenta cada tema do EP de estreia do grupo.  Até lá!

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