Elza Soares, força da natureza e da música, morre aos 91 anos de idade

Elza Soares, força da natureza e da música, morre aos 91 anos de idade

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Redação* – redacao@negrxs50mais.com.br

No carnaval da Sapucaí de 2020, antes do mundo parar, o samba da Mocidade Independente de Padre Miguel já avisava em alto som: “Laroyê e Mojubá, liberdade / Abre os caminhos pra Elza passar / Salve a mocidade / Essa nega tem poder / É luz que clareia / É samba que corre na veia”. Neste 20 de janeiro, feriado de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, Elza Soares, força da natureza e da música brasileira, aos 91 anos, morreu em casa de causas naturais, segundo sua família.

Elza Gomes da Conceição, nascida em 23 de junho de 1930 no Rio de Janeiro, teve uma das mais ativas e ecléticas carreira musical.  Gravou 34 discos desde o fim dos anos 50 até 2019.  Transitou pelo samba, jazz, eletrônica, hip hop e funk. No ano 2000 foi escolhida pela BBC como “a voz do milênio”.

Elza Soares - 1960 - Arquivo Nacional - força da natureza - e da música- morre aos 91 anos de idade
Elza Soares – 1960 – Arquivo Nacional

A vida artística de Elza começou em 1953 com seu primeiro teste, no programa de calouros de Ary Barroso, na Rádio Tupi, no qual ficou em primeiro lugar. De origem pobre, Elza trabalhou como encaixotadora em uma fábrica de sabão no Engenho de Dentro. Já no meio artístico foi crooner e trabalhou na Orquestra Garam Bailes, até 1954. Em 1959 foi contratada para trabalhar na Rádio Vera Cruz e em 1960, atuou no Festival Nacional da Bossa Nova. Com o sucesso, foi representante do Brasil na Copa do mundo no Chile, em 1962.

Primeiro álbum foi lançado nos anos 50

Elza gravou seu primeiro álbum em 1959. Em plena efervescência bossanovista, a jovem cantora de Padre Miguel devolveu o samba às rádios e inaugurou uma fase de sucesso dos artistas do gênero no mercado fonográfico. Sua presença permitiu que o grande público pudesse ter acesso às músicas das comunidades que jamais ultrapassavam as fronteiras dos terreiros das agremiações de carnaval e rodas de samba do subúrbio.

O último disco lançado foi “Planeta Fome”, em 2019 faz parte de uma vida inquieta, com algumas viradas estéticas, mais pronunciada na década de 1980. Mas a guinada total foi em 2015, com o antológico “A Mulher do Fim do Mundo”. A artista mergulhou na fonte de juventude com uma sequência de trabalhos audaciosos e plenos de contemporaneidade e brasilidade. Esta sonoridade renovada projetou Elza como uma importante ativista política, porta-voz das pautas como a defesa dos direitos da população negra, das mulheres e das comunidades LGBTQIA+.

Elza Soares - 1960 - Arquivo Nacional - força da natureza - e da música- morre aos 91 anos de idade
Elza Soares – acervo pessoal

A sambista ávida por novidades caminha com o tempo

Algumas frases exemplificam o pensamento de Elza, entre elas:

“Eu sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante”

ou  

“Eu acompanho o tempo, eu não estou quadrada, não tem essa de ficar paradinha aqui não. O negócio é caminhar. Eu caminho sempre junto com o tempo.”

Nos anos 60, Elza gravou discos com cantor Miltinho (1928–2014) e o baterista Wilson das Neves (1936–2017). Entre as obras estão “O samba é Elza Soares” (1961), “Sambossa” (1963), “Na roda do samba” (1964) e “Um show de Elza” (1965). Nos anos 70, registrou sucessos como “Salve a Mocidade” (Luiz Reis, 1974), “Bom dia, Portela” (David Correa e Bebeto Di São João, 1974), “Pranto livre” (Dida e Everaldo da Viola, 1974) e “Malandro” (Jorge Aragão e Jotabê, 1976).

Nos anos 80 uma mudança e a aproximação com uma geração mais nova. Com  Caetano Veloso grava o samba-rap “Língua”, no disco “Velô” , de 1984. No ano seguinte inclui uma música de Cazuza em seu álbum  “Somos todos iguais”.

No ano de 2002, lançou  “Do cóccix até o pescoço” e, em 2003 “Vivo feliz”, mais dedicado à música eletrônica.

O último show de Elza foi no Festival Psica, em Belém (PA) no dia 19 de dezembro do ano passado. Durante a pandemia Covid-19 ela cantou em lives e estava produzindo um novo álbum de estúdio. Nessa semana, nos dias 17 e 18 gravou shows no Theatro Municipal de São Paulo para o lançamento de um DVD.

Casamentos, filhos, separações, agressões

Em 1962, ano do bicampeonato mundial de futebol do Brasil, Elza passa a conviver com Garrincha, jogador do Botafogo. No início era uma relação escondida, pois ele era casado. A reação da sociedade à época foi forte com acusações de que ela seria uma “destruidora de lares”. Mas os dois foram adiante, Garrincha de desquitou e foi viver com Elza, uma relação que durou 17 anos.

Nos anos 70 tiveram um filho, Júnior, que morreu aos nove anos de idade em um acidente de carro em 1986. A relação com Garrincha foi prejudicada pelo alcoolismo do jogador e depressão pelo fim da carreira, incluindo episódios de agressões físicas.

O primeiro casamento de Elza aconteceu quando ela tinha 12 anos de idade e seu pai a obrigou a se casar com Lourdes Antônio Soares. A cantora ficou viúva aos 21 anos. 

Elza teve oito filhos, os dois primeiros, ambos meninos, morreram com poucas semanas de vida sem serem registrados. Posteriormente teve João Carlos, Gerson (entregue para adoção por falta de condições para criá-lo), Gilson (morto em 2015, aos 59 anos), Dilma (sequestrada com um ano de idade em 1950, e reencontrada somente em 1980), Sara e Manoel Francisco, apelidado de “Garrinchinha”.

Álbum gravado nos anos 90 e recém lançado é irretocável

No fim do ano passado, em 10 de dezembro, foi lançado o álbum Elza Soares & João de Aquino. Gravado nos anos 90 (provavelmente em 1996, não há certeza do ano), é uma obra irretocável que une a voz de Elza e o violão de João de Aquino.  Ouça:  

Um de seus pedidos foi plenamente atendido. “Me deixem cantar até o fim”, pediu Elza em verso da música que batiza o álbum.

*Com o site “Na Caixa de CD” , Dicionário Cravo Albin e e-biografia

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