Indústria inibe biodiversidade alimentar em todo mundo

Indústria inibe biodiversidade alimentar em todo mundo

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Por Carina Accioly* – redacao@negrxs50mais.com.br

Por que encontramos praticamente sempre os mesmos produtos nos mercados ao redor de todo o mundo se sabemos que o planeta Terra e, especialmente o Brasil, possui uma variedade tão grande de vida? A resposta é complexa, mas um dos principais motivos é o econômico, pois para reduzir gastos, perdas na cadeia produtiva e aumentar a lucratividade, o sistema convencional de produção de alimentos em grande escala buscou homogeneizar a sua produção, com seleção das variedades de alimentos mais bem aceitas pelos consumidores.

São privilegiados aqueles com maior resistência e que permitam níveis mais elevados de padronização dos resultados, com produção ao longo de ano todo mantendo características sensoriais semelhantes, além de serem resistentes ao transporte e armazenamento.

Entretanto, esse processo causa problemas. Ao valorizar apenas alguns alimentos, fazemos com que aqueles não cultivados para a comercialização percam sua importância e muitos agricultores optam por deixar essa biodiversidade alimentar de lado, em favor daqueles produtos que terão maior garantia de venda, fazendo com que muitas espécies se percam.

Processo vigente ignora ciclo da natureza

Isso nos torna mais vulneráveis a possíveis problemas que venham a ocorrer com a cultura das espécies escolhidas para a produção em grande escala. Já imaginou o que aconteceria se, de um dia para o outro, perdêssemos toda a produção mundial de trigo ou arroz?

Além disso, a escolha pelas monoculturas na produção faz com que seja necessária a utilização de diversos produtos para garantir que esses alimentos consigam ser produzidos a todo tempo em quantidades suficientes para suprir a necessidade da população. Esse processo ignora o ciclo da natureza, além de reduzir o espaço disponível para que outras espécies de vida sobrevivam naquela região e ocasiona a perda de conhecimentos relacionados aos seus manejo e utilização.

Para os agricultores, isso representa a perda da autonomia em relação ao o quê e como produzir, além de uma maior insegurança, pela perda da variedade em sua produção. Para nós, consumidores, isso significa uma perda nutritiva enorme. É uma realidade que   impossibilita a seleção de alimentos por seu rendimento econômico e que pouco leva em consideração seus valores nutricionais, o que provoca a perda de variedade em nossa alimentação e uma repetição e homogeneização dos insumos utilizados na culinária.

Consumidores têm poder de escolha e podem diversificar

Temos que lembrar que o termo biodiversidade denota um conceito que não se aplica apenas para a vida em ecossistemas naturais, mas também ao que a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) define como Biodiversidade para a Alimentação e Agricultura. Esse conjunto engloba toda a vida envolvida na agricultura e produção de alimentos, como sua variedade em uma determinada região ou tempo.

Como consumidores, temos o poder da escolha, e podemos optar por valorizar o consumo mais diversificado de alimentos, com maior variedade de sabores e nutrientes para o nosso dia a dia. Esse comportamento pode ser essencial para que os agricultores ampliem a gama de uma produção que seja mais resiliente, além de contribuir com uma maior diversidade de vida no planeta e na agricultura.

*Carina Accioly é estudante de gastronomia da UFRJ

Leia também:

Imagens – FAO. 2020. FAO Strategy on Mainstreaming Biodiversity across Agricultural Sectors. Rome. https://doi.org/10.4060/ca7722en

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