Velha Guarda canta os 120 anos de Paulo da Portela

Velha Guarda canta os 120 anos de Paulo da Portela

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Por Na Caixa de CD* – redacao@negrxs50mais.com.br

Em 1937, Paulo Benjamin de Oliveira compôs o samba “Meu Nome Já Caiu no Esquecimento” em que dizia “chora Portela, minha Portela querida/Eu te fundei, serás minha toda a vida”. Ele acabara de sair da escola que fundou após desentender-se com a diretoria da época. Felizmente, poetas também erram. Paulo da Portela sempre foi e será reverenciado pela agremiação azul e branco de Oswaldo Cruz, como neste sábado, dia 18, às 15h, quando a Velha Guarda canta os 120 anos de seu nascimento com um show híbrido (presencial e remoto) na quadra da escola.

Velha Guarda da Portela 2021
Velha Guarda da Portela – Foto: Divulgação

O aniversário do fundador é no dia 18 de julho, mas o agravamento da pandemia adiou a homenagem da escola. Agora haverá a indispensável feijoada que acompanha as reuniões de bambas. As mesas e camarotes, em números limitados, estão sendo vendidos apenas pelo telefone (21) 3217-1604, das 9h às 17h. Não haverá venda no local.

Destinado não apenas aos portelenses, mas aos apreciadores do samba e suas melhores tradições, o evento celebrará o legado de Paulo da Portela e a trajetória do grupo que segue sendo comandado por Monarco e Tia Surica. São duas lendas vivas da Águia de voo mais sublime do carnaval carioca. A apresentação será transmitida simultaneamente pelo YouTube da produtora Fitamarela e no da escola, a Portela TV.

Paulinho da Viola reuniu Velha Guarda pioneira

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Lonato, Casquinha, Cabelinho, Eunice, Monarco, Oscar Bigode, Doca, Chico Santana, Argemiro, Aniceto, Alvaiade, Manacéa, Osmar e Olímpio em registro na década de 1970- Foto: Acervo G.R.E.S. Portela

A Velha Guarda da Portela é pioneira no gênero entre as coirmãs. Teve início em 1970, quando Paulinho da Viola reuniu os baluartes mais representativos da escola para gravar o álbum “Portela Passado de Glória”, que tem foto de Paulo da Portela na capa.

Monarco era o mais novo de seus integrantes. Hoje, aos 88 anos, é o último remanescente do lendário grupo que participou daquele LP. “O Paulinho queria preservar aqueles belos sambas de nossos compositores mais antigos”, conta o compositor.

O próprio Paulinho, em depoimento a este repórter em 2018, dava mais detalhes sobre essa história. “O produtor João Araújo tinha assumido a direção artística da RGE e me pediu sugestão de projetos. Tive a ideia de reunir os membros antigos da ala de compositores, que se encontrava aos domingos na Portelinha (a antiga sede), para resgatar esses sambas. Muitos deles haviam feito algum sucesso nos anos 1940. Fiz sozinho uma pesquisa de material e gravamos tudo em quatro dias. A repercussão foi ótima, surgiram muitos convites para shows, sobretudo no circuito universitário. E assim surgiu o conjunto, que fez apresentações em várias cidades”, conta Paulinho da Viola, que não cantava ou tocava com os velhos bambas. “Eu só apresentava o grupo”, lembra.

Paulo da Portela lutou pela imagem dos sambistas

Sambas como “Quantas lágrimas”, “Desengano” e “Vaidade de um sambista” ganharam várias regravações na voz de outros artistas. A esse álbum de valor incalculável para a história do samba se seguiriam outros como “Tudo Azul” (2005), com produção de Marisa Monte, e “Homenagem a Paulo da Portela” (2007):

Além de ter sido um dos fundadores da azul e branco, Paulo da Portela lutou para mudar a imagem estereotipada e preconceituosa que se tinha dos sambistas. O cantor, compositor e escritor Nei Lopes, em seu livro “Guimbaustrilho”, definiu Paulo:

“uma das maiores personalidades do mundo do samba em todos os tempos. Foi, em sua época, como compositor e dirigente, e a seu modo, um dos grandes defensores e propagadores da cultura dos negros. Movimentando-se entre as fronteiras que separavam as classes mais favorecidas da sua e, assim, levando políticos e artistas e intelectuais burgueses até o mundo do samba e conduzindo as escolas até a proximidade do poder, foi um dos maiores alavancadores do processo de aceitação do samba pela cultura dominante”.

Fiquem aqui com um raro registro de Paulo Benjamin de Oliveira cantando duas composições de Heitor dos Prazeres, “Tia Chimba” e “Vou Te Abandonar”, gravadas pela empresa norte-americana “Brunswick Records” em 1930.

E é por tudo isso que seu samba “Meu Nome Caiu no Esquecimento” nunca fará sentido.

*O blog Na Caixa de Cd é parceiro do Negrxs 50+ no compartilhamento de conteúdos.

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