Risco de morte das grávidas negras é quase o dobro na Covid-19
Dos 1.204 óbitos maternos registrados entre 2020 e 2021, em decorrência da Covid-19, cerca de 56,2% foram de mulheres negras. O risco de morte das grávidas foi quase duas vezes maior entre elas do que para as mulheres brancas, segundo o Observatório Covid-19, vinculado à Fiocruz. As mães negras apresentaram, também, o maior percentual de bebês nascidos prematuros, condição de 14,8% de seus filhos. Depois vieram as indígenas, com 8,1% e amarelas, com 6,3%,segundo estudo de 2013 da UFPel, Unicef e Ministério da Saúde.
São dados que expõem a histórica vulnerabilidade estrutural das mulheres negras no Brasil. Em 2019, antes da pandemia, por exemplo, mais de 65% dos óbitos maternos foram de mulheres negras, contra 30% de brancas.
Os números revelam parte da situação dos atendimentos de saúde da população negra, cujo o “Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde” acontece na próxima quarta-feira, 27 de outubro.
Segundo Cecília Izidoro, integrante do Grupo de Trabalho Diversidade, Equidade e Segurança do Paciente da Sociedade Brasileira pela Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp), entre os principais problemas na área da saúde – com relação às desigualdades étnico-raciais – está a questão dos dados sobre raça/cor.
Não ter a informação é uma forma de encobrir o racismo
Cecília afirma que o preenchimento da variável raça/cor/etnia, pode até ser feito de forma satisfatória em alguns estados. Mas, se não produzem indicadores, não são transformados em políticas reparadoras que responderiam às incidências de morbimortalidade. Dessa forma, caem no vazio estatístico.
Ela destaca que essas informações também precisam ser divulgadas e apresentadas pelas autoridades municipais de forma ampla e transparente. “Por meio desses dados, poderemos tornar os sistemas nacionais e locais de informação da saúde aptos a consolidar indicadores que traduzem os efeitos dos fenômenos sociais e das desigualdades sobre os diferentes segmentos populacionais.
“Não ter a informação é uma forma de encobrir o racismo. Sem conhecer, não temos como direcionar nossos esforços para um enfrentamento das desigualdades”, completa.
Cecília Izidoro
Vítimas prioritárias de partos inseguros e desrespeitosos
Brasileiras negras ainda têm menos chances de passar por consultas ginecológicas e de pré-natal. São também as que mais peregrinam até conseguir vaga numa maternidade para dar à luz. Recebem com menos frequência recursos para alívio da dor durante o parto ou mesmo anestesia. Estão mais sujeitas a sofrer violência verbal nas maternidades, com expressões discriminatórias e são vítimas prioritárias de partos inseguros e desrespeitosos.
O objetivo da Sobrasp, ao chamar a atenção para a vulnerabilidade das gestantes, parturientes e puérperas negras brasileiras e de seus neonatos, é reforçar a campanha da Organização Mundial de Saúde (OMS). A entidade elegeu para 2021 o tema Cuidado Materno e Neonatal no âmbito da segurança do paciente, e os esforços da Aliança Nacional para o Parto Seguro e Respeitoso.
Outras ações necessárias ao combate da desigualdade étnica e social, segundo a entidade:
- avançar na formação dos profissionais para a temática “Saúde da População Negra”, incorporando-a na educação permanente e qualificando o encontro clínico entre profissionais de saúde, paciente e família;
- estudar atentamente cada caso, verificar o que os exames obrigatórios apontam;
- não só preencher e coletar os dados do quesito cor, mas apontar, pelos dados epidemiológicos, como reverter os altos índices de mortalidade materna.
Imagem em destaque: J.K. Califf, via Flickr Creative Commons