Livro de Rodrigo França reflete sobre racismo na casa do BBB e na vida
Redação -redacao@negrxs50mais.com.br
Está nas livrarias o livro “Confinamento & Afins”, no qual o filósofo, cientista social, multiartista e ativista pelos direitos da população negra, Rodrigo França, reflete sobre o racismo estrutural e fala de suas experiências no reality show BBB. Em parceria com o jornalista Adalberto Neto, fala, ainda, sobre representatividade e empatia, entre outros temas.
No livro de 160 páginas lançando pela editora Agir e com valor sugerido de R$ 34,90, ele se propõe a expor o olhar de um homem negro sobre resistência e representatividade. Convida ainda os leitores a pensarem o conceito de confinamento de forma ampla, para além da ideia de se estar preso em um cômodo ou uma casa. Especialmente para o povo negro, lembra que existem muitas formas de confinamento. “Estamos sempre em busca de uma suposta liberdade, mas ainda há corpos que estão sendo vigiados a todo momento”, explica. “Há corpos perseguidos em lojas, examinados pelas câmeras de segurança, vistos como potenciais criminosos”.
“Desde muito cedo, me preocupo em sair de casa bem-vestido e perfumado. Minha mãe dizia que tinha que ser assim, e eu não questionava. Com o tempo, fatalmente, vamos descobrindo os porquês das coisas. E foi em uma revista policial, quando estava a caminho da padaria, vestindo short, camiseta sem manga e chinelo de dedo, que entendi a preocupação da minha mãe.”
Rodrigo França
Explicitando o racismo nas telas da TV Globo
Rodrigo conta ainda que aceitar o convite para participar do Big Brother Brasil em 2019 envolveu a possibilidade de levar um pouco do debate sobre o racismo a um dos programas de maior audiência da TV Globo, emissora líder de audiência na televisão brasileira. Ele revisita algumas das experiências que viveu no confinamento do programa e reflete sobre silenciamento social, assédio, violência simbólica e intolerância religiosa, por exemplo.
Disposto a engajar o público na luta antirracista, Rodrigo França reflete sobre racismo e inclui no livro uma lista de palavras, expressões e comentários que devem ser evitados devido à conotação depreciativa para o povo negro. Além disso, sugere aos leitores livros e filmes que mostram como o racismo tem moldado a sociedade e as relações humanas ao longo dos séculos. Um dos objetivos do livro é informar sobre diversos tipos de racismo — estrutural, institucional, linguístico, religioso — e, assim, oferecer ferramentas para ajudar a combatê-los.
O prefácio é da jornalista e influenciadora digital Maíra Azevedo, a Tia Má, que ressalta a importância dos competidores negros em programas como o BBB. Ela também exalta a postura conciliadora de Rodrigo durante o jogo. “Ele era literalmente um professor ali, diante de várias câmeras, tentando ensinar. Acredito que a sua missão no programa não foi ganhar um milhão, foi nos mostrar o quanto o amor preto cura, liberta e salva!”
Os autores
Rodrigo França é formado em filosofia e ciências sociais e especializado em direitos humanos fundamentais e segurança pública. Atua pelos direitos civis, sociais e políticos da população negra. Já participou como ator de 42 peças, dirigiu mais oito, expôs suas pinturas no Brasil e no exterior. Hoje circula pelo país para participar de apresentações e encontros. Recentemente lançou pela Nova Fronteira o livro infantil “O Pequeno Príncipe Preto”, no qual reuniu um pouco do que aprendeu sobre amor e afeto com sua avó, seus pais e seus irmãos.
Adalberto Neto é formado em jornalismo e trabalhou em O Globo. Em 2019, escreveu o espetáculo “Oboró – Masculinidades negras”, que foi dirigido por Rodrigo França, seu amigo de longa data. A peça foi considerada uma das dez melhores do ano pelo Segundo Caderno, do O Globo, e recebeu os prêmios Ubuntu, na categoria autor revelação, e Shell de Teatro, na categoria dramaturgia.
